A Prefeitura do Recife até que tentou organizar os ambulantes das calçadas da Avenida Conde da Boa Vista, no Centro da cidade, com a retirada de 240 camelôs que atuavam sem permissão, em 2015. Na época, a proposta era deixar 141 comerciantes cadastrados na via, de forma temporária, e até o fim do ano levar todos eles para shoppings populares que seriam construídos no bairro da Boa Vista. A transferência não aconteceu e as calçadas estão ocupadas por cerca de 500 ambulantes.
“A Conde da Boa Vista virou uma favela porque o poder público não consegue ordenar os camelôs”, afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio Informal (Sintraci), Edvaldo Gomes, apontando a profusão de barracas no trecho entre a Rua José de Alencar e a Rua Gervásio Pires. “Nós propomos a padronização, com duas telas por ambulante para expor as mercadorias. Por falta de fiscalização, a gente vê um único camelô com 20 telas”, afirma Edvaldo Gomes.
Morador de Olinda e vendedor de capa e película para celular na Conde da Boa Vista há quatro meses, Mateus Santos, 21 anos, disse que virou camelô porque não consegue mais emprego como ajudante de pedreiro. “A crise está grande, não apareceu trabalho e eu vim para cá”, declara. Anderson Ribeiro da Silva, 22, vende o mesmo produto, há dois anos. “Dá para se manter com as vendas”, diz ele, acrescentando que correm boatos de retirada dos ambulantes a partir de janeiro de 2019.
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“Não temos como saber se isso vai acontecer mesmo, todo ano a prefeitura fala que vai tirar os camelôs”, comenta Anderson Ribeiro. “A primeira pergunta a ser feita é: tirar esse povo todo e botar onde? Todos precisam trabalhar”, ressalta Edvaldo Gomes. Ele disse que o Sintraci participa dos debates para a revisão do Plano Diretor do Recife e sugere a inclusão, na lei municipal, de soluções para o comércio informal da cidade, como a construção de shoppings populares.
Projeto
A saída dos ambulantes da Conde da Boa Vista no em 2019 não é boato, de acordo com a prefeitura. “Estamos concluindo um trabalho para a avenida, é um projeto de revitalização desenvolvido em conjunto com a Emlurb (Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife). Com a execução da obra, os ambulantes terão de sair da Conde da Boa Vista, eles serão transferidos para ruas transversais, temporariamente”, declara o secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga.
A proposta contempla toda a avenida, que tem 1,7 quilômetro de extensão, entre a Rua Dom Bosco e a Rua da Aurora. Segundo o secretário, o projeto prevê a recuperação das calçadas, paisagismo, travessias seguras para pedestres, solução para o transporte público, estudo semafórico, novo desenho para paradas de ônibus e ordenamento dos ambulantes. “São ações para a mobilidade e o paisagismo, vamos apresentar esse trabalho à imprensa em novembro”, avisa.
João Braga garante que haverá espaço para ambulantes, mas não será mantida a mesma quantidade de camelôs que trabalham na Conde da Boa Vista atualmente. “Só poderão ficar os comerciantes cadastrados”, diz. Ele não quis adiantar quantas pessoas poderão atuar nas calçadas da via, mas já disse que não é permitido o comércio de frutas, verduras e sulanca. “Nossa maior preocupação é o trecho entre as Ruas José de Alencar e Gervásio Pires, o trânsito de pedestres ali é difícil.”
Na opinião da professora Tereza Souza, 51, qualquer projeto para a revitalização da Conde da Boa Vista deve levar em consideração o pedestre, os passageiros de ônibus e os ambulantes. “São as categorias que mais sofrem nessa avenida. Reconheço que é complicado andar em alguns trechos das calçadas por causa dos camelôs, mas o desemprego no Estado é grande e eles precisam trabalhar”, declara a professora. Caberá à Emlurb licitar a obra. O serviço será executado com recursos do município em 2019.