O arcebispo emérito de Olinda e Recife dom Helder Camara (1909-1999) era profeta, líder espiritual e místico reconhecido internacionalmente. O que pouca gente sabe é que ele era também um artista. Em 90 anos de vida dom Helder escreveu mais de sete mil poemas, produziu crônicas, criou uma sinfonia, fez o argumento para uma peça de balé e promoveu noites de debates artísticos e filosóficos.
“Esse é um lado praticamente desconhecido, porém é a mais humana de todas as facetas de dom Helder”, afirma o professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Católica de Pernambuco Newton Cabral. A vocação artística do sacerdote é resgatada no livro “Andar às voltas com o belo é andar às voltas com Deus”: a relação de dom Helder Camara com as artes, que será lançado terça-feira (27/11) na Unicap.
Editada pela Bagaço, com 296 páginas e tiragem de 500 exemplares, a publicação é organizada por Newton Cabral e pela historiadora Lucy Pina Neta, doutoranda de Ciências da Religião da Unicap. “O ápice de dom Helder como artista é a Sinfonia dos Dois Mundos. Ele fez o texto para os seis movimentos e participou, recitando, de todas as apresentações realizadas no mundo, com música de Pierre Kaelin”, afirma Newton Cabral.
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O livro conta toda a história das “noitadas” promovidas por dom Helder no Palácio dos Manguinhos, nas Graças, Zona Norte do Recife, nos primeiros anos como arcebispo de Olinda e Recife na década de 1960. “Contamos como surgiu, quem participava, os temas abordados e porque se acabou”, declara o professor. As conversas passeavam pela sociologia, filosofia, literatura, artes plásticas e música, diz ele.
Nos quatro primeiros capítulos os autores estabelecem as ligações entre o artista e o religioso; explicam como dom Helder se aproximou das artes; destacam a sensibilidade com qual o sacerdote conduziu as amizades com diversos artistas no período turbulento da ditadura militar no Brasil; e falam das “noitadas” que ocorreram ao longo de quatro anos.
“Depois, apresentamos o arcebispo poeta, cronista e amante do cinema, do teatro e da música”, afirma o professor. A peça de balé de autoria de dom Helder foi coreografada pelo francês Maurice Béjart (1927-2007). “Na música ele tinha predileção por Chico Buarque de Holanda, fez muitos comentários sobre A Banda e Pedro Pedreiro”, observa.
Dividido em 11 capítulos, o livro traz textos dos organizadores e de outros autores: César Augusto Sartorelli, Walter Valdevino do Amaral, Helder Remigio de Amorim, Elizabet Soares de Souza Remigio, Carlos André Silva de Moura, João Luiz Correia, José Afonso Chaves Júnior, Alexandre Figueirôa, Cláudio Bezerra, Stella Maris Saldanha, Percy Marques Batista, Silvério Pessoa, Péricles Andrade, Charlisson Silva de Andrade e Cícero Williams da Silva.
FONTE
Os autores usaram como principal fonte as Cartas Circulares de dom Helder, publicadas em 13 volumes pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), com correspondências que ele enviava a amigos residentes no Rio de Janeiro, onde morou de 1936 a 1964, e no Recife, onde viveu de 1964 a 1999. O acervo artístico do arcebispo emérito, incluindo os mais de sete mil poemas assinados com o pseudônimo Padre José, pertencem ao Instituto Dom Helder Camara (Idhec), instalado na Rua Henrique Dias, s/n, na Boa Vista, Centro do Recife.
O lançamento será no Auditório Dom Helder Camara, localizado no térreo do Bloco A da Unicap (Rua do Príncipe, Boa Vista), às 19h, quando a publicação será vendida por R$ 39. O preço normal é R$ 45 e os exemplares podem ser adquiridos com o professor Newton Cabral no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, que funciona no Bloco G4 (8º andar), por trás da agência do Banco Itaú.