Cidades com quase cinco séculos de existência têm muitas histórias para contar a seus moradores e visitantes. Histórias impressas em livros, impregnadas nas paredes do casario, escritas no chão de ruas, becos e ladeiras. E lendas que se espalham de boca em boca, levadas pela brisa, através das gerações. Nesta terça-feira, 12 de março, dia em que Olinda comemora 484 anos de fundação, veja histórias curiosas da Cidade Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade.
Medieval e moderna
Foto: Flora Pimentel/Acervo JC Imagem
A construção de Olinda no alto de uma colina, em 1535, não foi fruto do acaso. Na verdade, Duarte Coelho, primeiro donatário da Capitania de Pernambuco, sabia muito bem o que estava fazendo. “Ele montou uma cidade à maneira medieval, porque estava nas alturas, mas moderna, porque seguia a lógica do urbanismo planejado do renascimento”, afirma o arquiteto José Luiz Mota Menezes, sócio do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. A cidade ficava no topo da encosta e seu meio de sustentação estava na planície, onde se podia plantar cana-de-açúcar. “O meio agrário sustentou Olinda”, declara José Luiz, acrescentando que os primeiros caminhos para a formação dos engenhos, às margens dos Rios Capibaribe (no Recife) e Beberibe, são decorrentes dessa forma de ocupação olindense, que se manteve até meados do século 17, quando as moradias descem e se expandem nas partes mais baixas. Na foto acima, a Sé de Olinda.
#ForaJerônimo
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Jerônimo de Mendonça Furtado, que tomou posse como governador da Capitania de Pernambuco em 5 de março de 1664, no século 17, entrou para a história como um dos primeiros casos de impeachment do Brasil. Ele foi deposto em 30 de julho de 1666, numa reunião na Câmara de Olinda (ruínas na foto acima) acusado de cometer falcatruas, irregularidades e arbitrariedades. “Um dos fatos que mais contribuíram para a crescente impopularidade do governador foi a avidez com que exigia o pagamento de dívidas atrasadas. Pagamento imediato, sem protelações, desculpas ou fracionamentos”, escreve o historiador e sócio do Instituto Arqueológico Carlos Bezerra Cavalcanti no livro Olinda: um presente do passado. O apelido do governador, Xumbergas, virou sinônimo para uma epidemia de peste que varria Olinda naquela época.
Fosforita vira bairro
Foto: Leo Motta/JC Imagem
Conjuntos habitacionais em Jardim Brasil (década de 1960, foto acima) e em Cidade Tabajara (década de 1970) foram construídos sobre a jazida de fosfato da antiga usina Fosforita, inaugurada em 1957 no município de Olinda. A indústria deveria ter funcionado por 50 anos, mas sem a proibição da importação do fosfato estrangeiro, teve vida curta. Sucumbiu às pressões internacionais e fechou as portas no fim da década de 1960. Para se ter uma ideia do tamanho da briga, o frete por via marítima para o fosfato que fazia o trajeto de Flórida (EUA) até Santos (SP) era mais barato do que o frete com o carregamento do mesmo produto do Porto do Recife para o Porto de Santos, como relata o historiador Carlos Bezerra Cavalcanti no livro Olinda: um presente do passado, lançado em 2012. A Fosforita ocupava as terras do Engenho Forno da Cal.