Cidades com quase cinco séculos de existência têm muitas histórias para contar a seus moradores e visitantes. Histórias impressas em livros, impregnadas nas paredes do casario, escritas no chão de ruas, becos e ladeiras. E lendas que se espalham de boca em boca, levadas pela brisa, através das gerações. Nesta terça-feira, 12 de março, dia em que o Recife celebra 482 anos de vida, veja histórias curiosas da capital pernambucana.
Vila de pescadores
Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem
Fundado como um porto de pescadores, em 1537, o Recife é pioneiro na assistência social aos necessitados. Já naquela época havia uma irmandade vinculada à ermida de São Frei Pedro Gonçalves (pequena igreja construída no atual Bairro do Recife, nas imediações da Praça do Marco Zero, e não mais existente) que dava apoio às viúvas dos pescadores. “Era uma espécie de previdência social do século 16”, comenta o arquiteto e urbanista José Luiz Mota Menezes, pesquisador da evolução urbana das cidades do Recife e de Olinda. A irmandade, diz ele, mantinha um hospital para prestação dos serviços. “Hospital não é o que conhecemos hoje, era uma sala onde funcionava a assistência às mulheres”, explica. O povoado do Recife, bairro que se vê na foto acima, se desenvolveu em volta dessa pequena igreja dedicada ao patrono dos navegantes.
Farinha na feira
Foto: Sérgio Bernardo/Acervo JC Imagem
A farinha de mandioca é um alimento tão caro à mesa pernambucana que em tempos remotos comerciantes soltavam fogos de taboca para anunciar à população a chegada do produto numa feira que funcionava na Praça da Independência (foto acima), localizada no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife, no século 18. Quando a mensagem era disparada, um WhatsApp rudimentar do passado, era correr para a feira e garantir seu saco de farinha de foguete, como o produto passou a ser identificado pela população. “A procura por farinha sempre foi muito grande. No período holandês (século 17), inclusive, a farinha chegou a ficar mais cara que o açúcar porque a produção era escassa. Tanto que um decreto do governo obrigou os plantadores de cana-de-açúcar a destinarem uma parte do terreno ao cultivo de mandioca, para que a farinha não faltasse”, diz o pesquisador Carlos Bezerra Cavalcanti.
Forte do Quebra-Pratos
Foto: Leo Motta/JC Imagem
Uma das fortificações construídas no Recife ganhou da população, no século 17, o apelido de Forte do Quebra-Pratos por um motivo bastante peculiar. Em dias festivos soldados soltavam tiros de canhão e o impacto destruía os pratos de quem morava nas redondezas. “Era tiro artificial, sem chumbo, só fazia zoada”, diz o historiador Carlos Bezerra Cavalcanti. Quem vivia por lá já sabia que tinha de juntar os caquinhos da louça toda vez que saía uma procissão. O Quebra-Pratos ficava no Bairro do Recife e ainda não foi localizado. “Há dúvidas se seria uma bateria do Forte de São Jorge, uma bateria no istmo que ligava o Recife a Olinda ou o Fortim do Bom Jesus que guarnecia uma das portas de entrada da cidade”, afirmam Veleda Lucena e Marcos Albuquerque, arqueólogos do Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco. Resquícios do fortim (foto acima) foram encontrados sobre a muralha holandesa do século 17 na Rua Barão Rodrigues Mendes.