A um dia do fim do prazo imposto pela Justiça para desocupação do Edifício Holiday, em Boa Viagem, advogados voluntários pretendem entrar, nesta terça-feira (18) com um pedido de reconsideração da interdição do prédio e prorrogação do prazo de saída dos moradores, que continuam indignados com a decisão do juiz Luiz Gomes da Rocha Neto, deferida na última quarta-feira. Uma audiência pública está marcada para acontecer na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) às 10h.
Segundo a advogada Maiza Amaral, representante Holiday, desde a determinação de interdição, medidas já foram tomadas pelos próprios moradores e voluntários para sanar os problemas emergenciais do prédio. “Vamos entrar com um pedido de reconsideração, já que a decisão foi baseada no risco eminente de incêndio e explosão e ele não existe mais. Foi retirada toda a fiação, foram retirados os botijões de gás, três toneladas de lixo e foi limpo todo o fosso do elevador. Posteriormente, vou entrar com um agravo de instrumento e com um pedido de reconvenção contra o município, o Estado e a Celpe, para que eles participem e sejam responsáveis solidariamente”, explicou.
Entre os moradores, muitos se negam a deixar o prédio, que continua sem água e sem energia. Seja por não terem para onde ir ou por se recusarem a deixar seus imóveis para pagar aluguel em outro local. Dentre as reivindicações, eles pedem que o Governo do Estado e que a Prefeitura do Recife (PCR) ajudem a arcar com os custos da requalificação do prédio. “A PCR disse que nos daria um auxílio de R$ 200 reais durante seis meses enquanto não voltamos para o prédio. Mas, onde é que alugamos algum imóvel com esse valor? É você passar da condição de pobre para miserável. Nós queremos que nos ajudem. Ao invés de gastarem com pessoal para fazer nossas mudanças, deveriam usar esse valor para a compra de material para realizar os ajustes no nosso prédio”, pontua a ambulante Jeane Nascimento, 38 anos.
Na tarde desta segunda-deira (18), o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, presidiu uma reunião na Cúria Metropolitana, na Zona Norte do Recife, para que fossem pensadas soluções rápidas e eficazes que garantissem os direitos e a integridade dos moradores do Holiday. Durante as discussões, foram levantados questionamentos sobre a possibilidade dos ajustes elétricos serem feitos sem a desocupação do prédio, o que seria possível, de acordo com engenheiros voluntários que se disponibilizaram a ajudar na causa. No entanto, segundo o secretário de Defesa Civil do Recife, coronel Cássio Sinomar, a possibilidade só pode ser discutida após apresentação de laudos técnicos. “É importante que mostrem laudos e atestem tudo mediante a Justiça. Esta foi uma decisão judicial e é necessário que um responsável técnico se responsabilize. Nós estamos brigando pela segurança e pela vida das pessoas”, atestou.
Moradores deixam o prédio
Até o momento, cerca de 180 famílias já deixaram o edifício. Dos quase três mil moradores do prédio, até o final da manhã de ontem, apenas quatro pessoas tinham aceitado se inscrito para ficar no abrigo disponibilizado pela PCR. Para a diarista Josefa Pereira, 42 anos, ir para o abrigo não é uma opção. “Ninguém quer ir para esses lugares. Eu não tenho nenhuma família aqui e nem tenho condições de ficar, vou para outro estado morar com meus pais, mesmo sem saber o que me espera por lá. Tenho três filhos e todo meu sustento vinha das faxinas que fazia aqui por Boa Viagem”, conta.
Ao final da tarde, foi criada uma comissão para que o assunto seja novamente discutido na Cúria Metropolitana, na manhã de desta terça. Participam da comissão representantes do Governo, Prefeitura do Recife, sociedade civil, Igreja Católica e Celpe. Segundo dom Fernando Saburido, o encontro é importante para que sejam pensadas soluções viáveis para aparar as pessoas centenas de famílias que vivem no Holiday. “Tenho esperança que a partir dessa reunião a gente chegue em um bom acordo e consiga favorecer essa população pobre”.
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