O anexo do Mercado de São José, que estava pronto desde 2016 mas não podia ser inaugurado por falta de equipamentos para abrigar a mercadoria dos comerciantes, entra em funcionamento na próxima segunda-feira (02/09). Com acessos pela Praça Dom Vital e pelo Cais de Santa Rita, no bairro de São José, Centro do Recife, o prédio receberá 86 vendedores de ervas medicinais, especiarias, temperos, grãos e cereais que hoje trabalham nas ruas em volta do mercado histórico.
Faltando poucos dias para a transferência das barracas, prevista para ser realizada domingo, 1º de setembro, os comerciantes ainda estão providenciando melhorias nos boxes, como a colocação de cerâmica no piso e instalação de prateleiras. O prédio anexo do Mercado de são José foi reformado pela Prefeitura do Recife e fica entre as Ruas do Porão e Padre Muniz.
Barracas de ervas medicinas ocupam a rua desde 1989. Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
“A prefeitura, apesar de ter passado tantos anos para reformar o prédio, entregou uma estrutura muito fraca”, afirma Tatiane Santos, que há 13 anos trabalha com o pai numa barraca de ervas medicinais. “As prateleiras colocadas são remendadas e o material parece reaproveitado, elas afundam só com o peso da mão”, diz Tatiane ao exibir as peças. Ela substituiu as prateleiras por estantes de aço e elevou o piso da barraca para evitar topadas na barra colocada sob a porta. Ontem, o serviço estava em execução.
Tatiane gosta de trabalhar na via pública, mas concorda com a remoção das barracas para o prédio anexo. “Lá, estaremos todos juntos e a circulação na rua ficará muito melhor para pedestres e veículos”, observa. O ideal, diz ela, seria a permanência dos vendedores em volta do mercado, em quiosques padronizados, com organização e limpeza. “Infelizmente, isso não é possível.”
A construção do anexo, recorda a comerciante Maria da Conceição de Lima Tavares, foi prometida pela prefeitura em 1989, após o incêndio que atingiu o Mercado de São José. “Antes do incêndio, os boxes dos vendedores de ervas medicinais eram agregados nas paredes do mercado. Depois do acidente as barracas vieram para o outro lado da rua, somos considerados locatários. A abertura do anexo é um sonho realizado”, declara Conceição, vendedora de ervas há 38 anos.
Anexo do mercado receberá vendedores de ervas medicinais. Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
De acordo com o secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, além das 86 barracas de ervas medicinais, grãos e cereais, serão removidos mais 150 feirantes de frutas e verduras da Praça Dom Vital, ao redor do Mercado de São José. “Ninguém ficará nas ruas, já levamos o Mercado das Flores e oito barracas de alimentos para o Centro Comercial do Cais de Santa Rita, no domingo vamos transferir os feirantes para o pátio construído nesse mesmo local”, declara o secretário.
Ele disse que o pátio da feira no Centro Comercial do Cais de Santa Rita (defronte à Rua do Porão), instalado com apoio do governo do Estado, comporta 450 feirantes. “A transferência será por partes, até chegar aos vendedores de sulanca e panelas”, avisa o secretário. “Nem todos estão gostando, é normal, toda mudança gera insegurança. Com o tempo, tudo se acomoda e o resultado vai ser melhor para todos, sem barracas nas ruas poderemos recuperar um espaço de lazer e turismo da cidade”, acrescenta João Braga, numa referência ao mercado e à Praça Dom Vital.
FEIRANTES
“Essa é a minha terceira mudança para o Cais de Santa Rita, as outras duas não deram certo, voltei porque lá não vendia nada. Agora a prefeitura vai novamente desconectar os vendedores de carne do mercado e os barraqueiros de frutas e verduras da feira”, diz Antônio Marcos Vieira, feirante há 60 anos. “Domingo vamos para o Cais de Santa Rita, não adianta brigar com o poder público, porém, gaiola bonita não dá comida a canário”, pondera.
Na avaliação do filho de Antônio Marcos, que trabalha na mesma barraca de frutas e verduras junto do Mercado de São José, a prefeitura deu um prazo curto para a transferência dos feirantes. “Fomos pegos de surpresa, ainda falta estacionamento para carga e descarga, anteparo de chuva e chafariz no pátio da feira”, destaca Antônio Marcos Vieira Filho.
Nova área da feira de frutas e verduras no Cais de Santa Rita. Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
A feirante Judite Nogueira, com 27 anos de atuação no Centro, também teve experiência malsucedida no Cais de Santa Rita. “Fui uma vez e voltei para a área do mercado porque não conseguia vender nada. Como o pátio da feira foi montado em outro trecho do cais, vamos ver o que vai acontecer. Espero que dê certo e isso a gente só pode saber quando estiver lá, seja o que Deus quiser”, diz Judite.
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“Nunca vi mercado sem feira, estamos aqui há tempos, todos estão acostumados e no Cais de Santa Rita a gente vai ficar isolado, ninguém está gostando dessa mudança”, afirma Marcos Leonardo de Moura, vendedor de frutas e verduras.