Com 141 anos de existência, tombado como monumento nacional e representante da arquitetura do ferro e do vidro no Recife do século 19, o Mercado de São José bem que poderia ser mais bem tratado. O famoso centro de compras da Praça Dom Vital, no Centro da cidade, está chamando a atenção do público pelas vidraças quebradas, ferrugem e paredes desbotadas.
“Esse visual está péssimo, a prefeitura deveria restaurar e deixar o prédio bem bonitinho, como era antigamente”, diz a dona de casa Maria Josefa da Silva. Ela mora no Ibura, bairro da Zona Sul do Recife, e frequenta o mercado para comprar peixe. “Tem muito vidro quebrado nas paredes (venezianas da edificação) e isso é um perigo para quem passa na calçada”, alerta Maria Josefa.
Na avaliação do comerciante José Messias Santana, o principal problema do centro de compras é a falta de manutenção. “O prefeito virou as costas para o Mercado de São José, os refletores que iluminavam as entradas do prédio estão quebrados há mais de três anos”, destaca. “Os vidros das venezianas caem e não há reposição, as vidraças sequer são lavadas e acumulam poeira”, observa.
José Messias, que tem boxe no mercado há 35 anos e faz parte da associação de locatários, informa que os comerciantes pedem com regularidade à prefeitura a recuperação do imóvel. “Não temos retorno. Os únicos serviços executados são varrição e consertos na rede elétrica.” Só há registro de situação pior do que atual, diz ele, no fim dos anos 80, quando o mercado quase foi fechado.
“Depois do incêndio (parte do mercado foi destruído pelo fogo em 1989), fizeram a restauração e ficou lindo. Porém, por falta de manutenção, está se deteriorando. O prédio foi pintado pela última vez na administração de João Paulo (prefeito em duas gestões, de 2001 até 2008)”, afirma José Messias. “Precisamos de limpeza, manutenção e ordenamento”, acrescenta o locatário Elton Ferreira.
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Os vidros que ficavam em caixilhos abaixo do teto e protegiam a área interna em dias de chuva foram retirados, diz Elton Ferreira. “A cola ressecou, os vidros começaram a se soltar e a solução dada foi tirar tudo. Agora, quando chove, a água entra”, detalha. “Fizeram umas placas indicativas das mercadorias (artesanato, carne, erva), mas eram pesadas demais e, quando as primeiras caíram, recolheram as outras.”
Entregador de mercadorias no local, desde 1974, Otacílio Rodrigues da Rocha disse que os vidros das venezianas despencam nos dias chuvosos, porque a estrutura de ferro está corroída pela ferrugem. Os cacos caem nos caixotes da bicicleta dele. “São pedaços pesados de vidro, se isso bate em alguém faz um estrago”, ressalta.
PROJETO
De acordo com a presidente da Empresa de Urbanização do Recife (URB), Norah Neves, o projeto de restauração do mercado, com recursos do PAC Cidades Históricas, está mantido. O valor é R$ 9,3 milhões, para elaboração do projeto e execução da obra. A primeira etapa do projeto, com o diagnóstico do prédio, pesquisa histórica e levantamento de propostas anteriores e de reformas executadas, está pronta.
“O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) já recebeu esse produto para analisar e a empresa contratada está fazendo o projeto de restauração completo, que prevê intervenções no piso, banheiros, coberta, vidraçaria, estruturas de ferro, organização dos boxes, iluminação, segurança e acessibilidade. O prazo para conclusão é abril de 2017”, informa Norah Neves.
Com o documento, a URB poderá definir o valor e o tempo de execução da obra. “O prédio está muito danificado, provavelmente esse valor não será suficiente para a obra toda. Se o município não tiver dinheiro para completar, teremos de definir prioridades”, avisa.