Livros

Biblioteca construída no século 18, em Olinda, será aberta ao público

Acervo da mais antiga biblioteca do Convento de São Francisco de Olinda está sendo restaurado

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 26/10/2019 às 8:12
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Acervo da mais antiga biblioteca do Convento de São Francisco de Olinda está sendo restaurado - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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O Convento de São Francisco de Olinda tem três bibliotecas. Uma delas foi criada no século 18, na época da reconstrução do prédio habitado pelos frades no Sítio Histórico da Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade. Ano após ano, as estantes de madeira que ocupam quase todas as paredes de uma sala no segundo pavimento da edificação foram preenchidas por livros escritos em latim, alemão gótico, alemão, francês, italiano, grego, inglês, espanhol e português. Sem uso há duas décadas, a biblioteca será aberta ao público em março de 2020, depois de restaurada.

Pela primeira vez, livros que no passado contribuíram para a formação religiosa e humanista de frades franciscanos no Brasil poderão ser manuseados por pesquisadores. Até março, porém, um longo caminho será percorrido para colocar o espaço novamente em funcionamento, com seus cinco mil volumes dos séculos 19 e 20. É preciso higienizar, hidratar, fazer pequenos reparos e proteger as publicações, uma a uma, com capa de filme de polietileno.

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O Projeto de Preservação da Biblioteca Colonial do Convento de São Francisco teve início em julho deste ano com a limpeza da sala, das 17 estantes decoradas com talhas no estilo rococó e do altar de São Boa Ventura, padroeiro dos estudos franciscanos. “Tiramos 19 sacos de pó, cada um com capacidade para 50 litros, só do forro”, informa Cecília Canuto, restauradora e produtora executiva do projeto, orçado em R$ 109 mil e financiado pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura).

Com estado de conservação de regular a péssimo, os livros apresentam problemas diversos, como danos provocados por acidez e perda de capa, lombada e folhas. “Páginas de alguns livros estão ilegíveis, insetos comeram tudo”, observa Cecília. De julho a outubro foram higienizados 3.938 exemplares e de 15 de agosto a 15 de outubro os técnicos conseguiram catalogar 493 publicações.

Em março do próximo ano, no encerramento dos trabalhos, os títulos catalogados dos livros ficarão disponíveis e poderão ser acessados na plataforma on-line bibilivre. É uma maneira de facilitar a pesquisa. A pessoa identifica previamente o material e entra em contato com o convento para marcar o horário da consulta presencial. Na reabertura da biblioteca, os franciscanos pretendem inaugurar uma exposição para divulgar o serviço executado e lançar um catálogo impresso.

Uma prévia pode ser conferida no mês que vem com duas visitas guiadas pela biblioteca e em dependências do convento. O passeio é voltado para pesquisadores e moradores de Olinda. “Vamos formar dois grupos de 15 pessoas cada, numa ação de educação patrimonial”, avisa Cecília Canuto. “O projeto é o resultado de um trabalho da comunidade franciscana, de preservação do seu acervo documental”, destaca.

O que tem na biblioteca?

Na biblioteca há livros de música, pintura, história, literatura brasileira e germânica, geografia, fotografia, ética, direito, religião, teologia, filosofia, política, educação, psicologia, comportamento, vida dos santos e dicionários ilustrados. “É a temática da cultura e do comportamento da igreja católica”, comenta Cecília Canuto.

A importância da biblioteca é enorme, salienta o historiador do projeto Plínio de Araújo Victor. “Os franciscanos chegam a Olinda no século 16, no início da colonização, e nesse período a produção do saber e o acúmulo de conhecimento estavam nas bibliotecas dos conventos, essa sala tem uma importância histórica para o Brasil”, declara Plínio Victor. “É uma biblioteca pequena, mas é o embrião das produções atuais nas universidades e centros de pesquisa”, acrescenta.

A higienização é realizada por etapas, explica o mestre em ciência da informação Eutrópio Pereira Bezerra. A limpeza, folha por folha, começa pela varredura com pincéis, sucção e sopro com auxílio de aspirador de pó. A escolha da técnica depende do estado de conservação do livro. Capas de couro ou pergaminho são hidratados com cera especial para devolver a maleabilidade perdida. O segundo passo são os pequenos reparos para recuperação de lombadas e de folhas de rosto e a construção de caixas de acondicionamento para preservar livros com folhas soltas.

A terceira fase corresponde ao acondicionamento dos exemplares com a capa protetora de filme de polietileno. “Essa capilha protege a encadernação e o miolo do livro de manuseio e umidade. A etiqueta de identificação das publicações serão coladas na capilha e não mais diretamente no livro”, diz Eutrópio Bezerra. A coordenação geral do projeto é do frade franciscano Roberto Soares. Ele informa que o acesso à biblioteca será gratuito.

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