No dia 1º de outubro foi comemorado o Dia do Idoso. Esta data, além do simbolismo envolvido, traz também o aniversário de 13 anos de decretação do Estatuto do Idoso, uma conquista significativa para esse segmento da sociedade. Entretanto, situações de desrespeito com pessoas da chamada "terceira idade" ainda são frequentes, especialmente nos coletivos do Recife e Região Metropolitana.
Não é raro encontrar quem já tenha passado por situações desagradáveis nos ônibus. "Tem motorista que queima parada, não para no local certo, fica longe do meio-fio, prejudicando a descida/subida do idoso", conta Gilvan Silva, militar aposentado de 72 anos. Segundo ele, é algo que acontece todo dia. "Antigamente tinha fiscalização, mas acabou", conta.
Leia Também
De acordo com os dados da Pesquina Nacional por Amostra de Domicílios divulgada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os idosos (+60 anos) representam 12,1% da população. Apesar de serem uma parcela significativa dos habitantes do país, e das leis que asseguram direitos básicos, o respeito ainda é uma batalha diária.
Grosserias
"A gente reclama mas parece que fica tudo no mesmo (jeito)", conta Severina Maria do Monte, aposentada de 70 anos. "O motorista uma vez disparou quando eu tava descendo e acabou arrancando um pedacinho de couro da minha perna". O condutor ainda continua na mesma linha, mas ela preferiu não arrumar briga: "Um dia ele colhe o que plantou".
"Deveria haver ônibus pra idoso", conta a aposentada Severina Maria do Monte (Diogo Cavalcante/JC Trânsito) |
Na opinião da aposentada, deveria ter ônibus exclusivo para idosos: "Tem seis lugares reservados, mas quando lota, nem sempre o motorista deixa a gente entrar atrás". Ela conta que há também quem fique na área especial de forma desnecessária. Sem falar na agressividade de algumas pessoas, especialmente as mais jovens: "Saem empurrando na fila, achando que a gente não tem direito".
Sem assentos
O direito ao transporte público gratuito ao idoso tem amparo tanto no Estatuto (Capítulo X, Art. 39) quanto na lei municipal nº 17.834/2012. Nos coletivos da Região Metropolitana, há o espaço reservado com alguns assentos preferenciais. Mas como eles não são dedicados tão somente aos maiores de 60 anos, como também para grávidas e deficientes físicos, quando esta área lota, o idoso fica obrigado a ir para a parte comum do coletivo.
E nem sempre quem está na área comum tem o bom senso de ceder o assento, como reza as regras da boa educação. "Uma vez fiquei em pé o tempo todo numa viagem de Olinda a Boa Viagem", relata Ana Garcia, de 65 anos. Ninguém cedeu lugar para a aposentada.
A senhora também conta que já foi desrespeitada por um motorista, que reclamou por ela ter pedido parada na frente do ponto de ônibus: "Eu tentei pedir parada pelo botão (que fica nos bastões do ônibus), mas ele não funcionou. Eu tenho problema no pulso esquerdo, quando eu puxei a corda com a outra mão, já estava em cima da parada e ele reclamou".
|
A falta de respeito, tanto da parte dos jovens quanto dos adultos comuns, é queixa constante. "Finge que tá dormindo, finge que não vê, finge que não existe", diz Sandra Lúcia, de 52 anos. Tecnicamente não é considerada idosa, já que só se caracteriza, perante a lei, dos 60 anos em diante. Mas ela, que mora em Camaragibe, conta o que vê todos os dias nos coletivos, inclusive no metrô: "Se você entrar lá (no metrô), vai ver logo um monte de jovens sentados e os idosos de pé".
Procurado, o Grande Recife Consórcio de Transportes, que administra as linhas de ônibus da Região Metropolitana, repudiou as atitudes de desrespeito. Confira a nota da empresa na íntegra:
"O Grande Recife repudia qualquer atitude desrespeitosa de operadores com os idosos. Tanto que possui programas educativos como o “Gentileza Faz a Diferença”, que trabalha a questão do respeito, da convivência harmoniosa e da priorização do assento reservado para o idoso.
Caso o idoso tenha alguma reclamação a fazer, ele deve registrar na Central de Atendimento ao Cliente (0800 081 0158). Para isso, deve informar a data e hora do ocorrido, o local, nome da linha e número de ordem do veículo."
Apesar de não ser o foco da matéria, a assessoria de imprensa do metrô também foi procurada, por conta da menção feita no texto. Mas até o fechamento desta reportagem, o JC Trânsito não obteve retorno.