O dia do motociclista, no Brasil, é celebrado neste sábado (27). Nesta data, nada melhor do que contar uma história de amor que vai muito além das duas rodas. Desde que era criança, Ana Lúcia Santos, diretora do AMT-PE, sonhava com um "brinquedo" diferente. "Meu sonho era ter uma moto e ser pilota", diz, relembrando a época.
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A menina foi crescendo e a vontade e admiração pelas motocicletas só aumentava. Em um certo dia, a recifense foi passar férias em Juazeiro do Norte, no estado do Ceará. Lá, ocorreu o primeiro contato com sua paixão de infância. "Um amigo tinha comprado uma bela moto 500 cilindradas. Eu a vi e me apaixonei", rememora. Percebendo os olhos brilhantes de Ana, o amigo fez o convite. E foi ali a primeira experiência com a prática que lhe daria mais prazer na vida.
A partir do pequeno trajeto percorrido naquele dia, Ana Lúcia desbravou o mundo em sua 'negona', como ela chama sua moto Shadow 750cc. Com a motocicleta, ela já esteve em todos os estados do Nordeste e já viajou de Recife até o Chile, percorrendo quase 15.000 quilômetros, contando ida e a volta. Em todas as viagens, colecionou experiências.
"[As viagens] no Nordeste são as mais emocionantes, com o calor escaldante e o carinho das pessoas. Tem lugares no Sertão que a beleza é ímpar. O que me faz feliz quando vou ao Sertão, é fazer as missões, ajudar os mais necessitados", relata. "Em outras cidades do Brasil, diferem as culturas, as pessoas, o clima. Em outros países, as pessoas são bastantes receptivas", continua.
Descoberta do câncer
No ano de 2016, Ana teve que dar uma pausa no 'sonho' em que vivia. Ela recebeu o diagnóstico de câncer de mama e teve que dar início a um duro processo de quimioterapia. Isso significava ter que parar de realizar o que ela mais amava na vida. "Fiquei sem pilotar por quatro meses, por causa da quimioterapia, que me deixou um pouco frágil. O meu médico me alertou logo que ficaria sem pilotar ou fazer qualquer esforço por mais de um ano", conta.
No momento mais difícil de sua vida, Ana pôde contar com o apoio de seus companheiros de estrada. Seus amigos motociclistas rasparam a cabeça e adotaram os lenços semelhantes aos que Ana usava. O apoio deu forças para ela vencer esta difícil luta. "Agradeço a todos. Primeiramente a Jesus, depois a minha mãe dona Alvelina. Aos Moto Clubes Raio da Peste e aos Veteranos Polícia do Exército. A todos. São muitos nomes", exalta a motociclista.
Companheiros de estrada de Ana rasparam o cabelo e passaram a usar lenço / Foto: Arquivo pessoal
A previsão de um ano sem pilotar se mostrou muito para Ana. Depois de seis meses do sumiço do nódulo, lá estava ela e 'negona' juntas novamente. "Todos meus amigos e motociclistas não acreditaram quando me viram novamente pilotando, por causa da quimioterapia. O câncer não me fez desistir", conta sorridente.
"O futuro é conhecer o resto do mundo"
Para muitas pessoas, ter uma motocicleta significa conforto na mobilidade, rapidez ou até emprego. Mas, para Ana, a prática significa, mais do que nunca, liberdade. "A sensação de sentir liberdade, o vento acariciando o rosto. Sentir-se empoderada em pilotar uma máquina, ter a paixão de desafios e chegar aonde quiser. Antigamente, só os homens podiam pilotar uma moto. Hoje em dia, nós mulheres temos a liberdade de fazer o que bem entendermos", celebra.
Curada do câncer, a motociclista conta que pretende dar sequência ao seu sonho. Ela quer viajar e conhecer o restante dos continentes. Claro, acompanhada de sua fiel escudeira, a motocicleta. Ao final da entrevista, Ana expôs a frase que, segundo ela, melhor define sua trajetória: "Nem todas princesas usam coroa, algumas usam capacete".