Ativistas que estavam acampados no terreno do Cais José Estelita, no bairro de São José, área central do Recife, foram retirados nesta terça-feira (17) pela Polícia Militar, que cumpriu mandado de reintegração de posse expedido pelo Tribunal de Justiça em 29 de maio, uma semana depois de iniciada a ocupação. Na operação, a PM usou bombas de efeito moral, balas de borracha e spray de pimenta. Pelo menos cinco pessoas ficaram feridas. Três homens e uma mulher foram presos e liberados no final da manhã. O grupo é contrário ao atual projeto Novo Recife, que prevê a construção de 12 torres empresariais e habitacionais no terreno.
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A desocupação começou por volta das 5h15, quando os acampados (havia cerca de 50 pessoas) foram acordados por policiais do Batalhão de Choque e da Cavalaria da PM. “Disseram que tínhamos cinco minutos para desocupar o terreno. Tentamos negociar, pedimos que esperassem a chegada dos advogados do grupo ou do Ministério Público, mas a polícia não concordou”, comentou Chico Ludermir, um dos acampados.
João Augusto Dias, outro ativista, relatou que, diante da negativa da PM em esperar a vinda de advogados, o grupo deu as mãos e sentou no chão. “Não adiantou. Os PMs começaram a jogar bombas e vir para cima da gente. Fomos para a linha do trem, pois lá é área federal e acreditávamos que a polícia não poderia agir ali, mas não foi o que aconteceu”, afirmou João Augusto. Um dos feridos, que não quis se identificar, teve um braço, uma perna e o tórax machucados por estilhaços. “A polícia chegou atirando bombas em cima da gente. Não tínhamos nem como reagir.”
Três advogados do Centro Popular de Direitos Humanos, que representam o Movimento Ocupe Estelita, e uma do grupo Direitos Urbanos, tentaram entrar no local durante a reintegração, mas foram impedidos. “Eu fui vítima do cassetete de um dos policiais. A reintegração poderia ter acontecido sem violência e de forma voluntária. Mas não houve interesse em negociar. Infelizmente, o poder econômico está passando por cima dos direitos humanos e sociais”, ressaltou a advogada Liane Cirne Lins, do Direitos Urbanos.
O capitão Júlio Aragão, da Polícia Militar, afirmou que “houve o uso de força necessária para garantir a reintegração de posse. Não teve excesso”. Segundo ele, a PM só entrou no terreno às 6h17, após tentar negociar sem sucesso, durante uma hora, a saída dos manifestantes . O capitão não quis informar o efetivo escalado para a operação, mas os ativistas estimam entre 150 e 200 policiais.
MANIFESTAÇÃO - Por volta das 8h30, com os manifestantes já do lado de fora do terreno, dois caminhões cedidos pelo Consórcio Novo Recife recolheram os pertences do grupo e os colocaram ao lado do Viaduto Capitão Temudo. Durante toda a manhã, o Batalhão de Choque ficou enfileirado na Avenida José Estelita para garantir que os acessos ao terreno fossem fechados com tapumes – fato questionado à tarde por policiais federais, pois o embargo da obra impede qualquer benfeitoria.
O clima de tensão arrefeceu e esquentou em vários momentos, ao longo da tarde. Em um deles, manifestantes tentaram impedir a entrada de um caminhão, jogando objetos na direção do portão. O Batalhão de Choque lançou spray de pimenta contra os ativistas, dispersando-os. Um rapaz chegou a desmaiar e, enquanto era socorrido por outros, o Choque continuou a agir, desta vez com bombas de efeito moral e balas de borracha. Outro grupo de PMs efetuou disparos do alto do viaduto. Por duas vezes, pela manhã e à tarde, o trânsito foi interrompido no Cais. Por volta das 16h30, ativistas bloquearam o trânsito na Cabanga e no Viaduto Capitão Temudo, interropendo o tráfego por uma hora. Novamente, foram dispersados pela Polícia Militar e outros cinco manifestantes teriam ficado feridos.