A rotina do assédio sexual a mulheres no transporte público do Recife

A equipe do JC ouviu relatos de passageiras de ônibus e metrô que foram assediadas
JC Online
Publicado em 14/09/2017 às 8:56
A equipe do JC ouviu relatos de passageiras de ônibus e metrô que foram assediadas. Foto: Foto: Léo Motta/JC Imagem


Não importa o veículo. O assédio sexual a mulheres no transporte público do Recife infelizmente é uma realidade. Seja no ônibus ou metrô, o constrangimento é diário. Tão “natural” que elas dizem já fazer parte da rotina. Rotina de insegurança. De quem não pode pegar uma condução para a escola ou trabalho tranquila. A equipe do Jornal do Commercio foi para as ruas ouvir essas mulheres assediadas que muitas vezes tem medo ou vergonha de narrar essas tristes histórias.

Uma das que mais chamou atenção, sem dúvida, foi a da estudante Isadadora Lima, de 23 anos. Ela mora no Timbi, em Camaragibe, e estuda em Casa Amarela, na Zona Norte do Recife. São seis ônibus todos os dias para ir e voltar da faculdade. Quase três horas no trânsito. E quase nenhum minuto de paz. Esta foi tirada dela muito cedo ainda aos 13 anos, quando foi assediada pela primeira vez. Estava na parte de trás do coletivo indo para a casa da tia quando viu um homem se masturbando para ela. Sem entender o que estava acontecendo, desceu do veículo chorando.

“Na época eu não entendia o que era aquilo e nem soube explicar direito para minha tia o que havia acontecido. Hoje eu sei que ele estava se masturbando. Essa imagem me marcou, é muita clara pra mim até hoje”, afirmou Isadora. Porém, este foi só o primeiro caso. Vários outros se sucederam ao longo da adolescência e vida adulta dela. Hoje, grávida de sete meses de Maria Bela, espera um mundo melhor para a filha: “Espero que ela conheça um outro mundo, com mais seguro. Quero que minha filha ande tranquila nas ruas”.

A equipe do JC também visitou o Metrô do Recife para mostrar que o projeto Vagão Rosa, que destinava um vagão exclusivo para o público feminino, não está mais funcionando. Lançado em janeiro deste ano e comemorado pelas mulheres, ele foi deixando de vigorar pela falta de efetivo para a fiscalização. Não durou nem seis meses. “Me sentia muito mais segura quando o vagão rosa funcionava porque sabíamos que ali só entrava mulher”, disse a estudante Deise Sara da Silva.

Para evitar que essa “rotina” continue como tal, a orientação da polícia é que toda passageira que se sentir constrangida faça a denúncia. “Em dois anos à frente da delegacia da mulher do Recife eu recebi apenas cinco de denúncias desses casos em ônibus e a gente sabe que esse número é bem maior. Por isso faço o apelo as mulheres que não tenham medo e venham denunciar”, afirmou a delegada Elise Sobreira.

DENÚNCIA

Para denunciar a mulher pode ir direto até a Delegacia da Mulher do Recife na Praça do Campo Santo, sem número, em Santo Amaro, em frente ao cemitério do bairro. Por telefone, os números são o disk denúncia 180 ou o da própria delegacia 3184.3352.

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