violência

Cenário de guerra e mortes em rebelião na Funase do Cabo

Duas vítimas foram carbonizadas (e uma delas ainda teve a cabeça decapitada) e outra faleceu por asfixia

Isabela Lemos e Gabriela López
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Isabela Lemos e Gabriela López
Publicado em 11/01/2012 às 0:18
Foto: Guga Matos/JC Imagem
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ATUALIZADA À 0H40

Até 0h30, a rebelião que começou no fim da tarde desta terça-feira (10) na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) do Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, parecia controlada, apesar de o Batalhão de Choque permanecer dentro da unidade. O presidente da Funase, Alberto Vinícius, confirmou três mortes. Duas vítimas foram carbonizadas (e uma delas ainda foi decapitado) e outra faleceu por asfixia, segundo o Instituto de Criminalística (IC). A unidade tem capacidade para receber 166 jovens do sexo masculino, com idades entre 17 e 21 anos, mas abriga 368 pessoas atualmente.

O Governo do Estado se comprometeu a prestar esclarecimentos sobre o caso nesta quarta-feira (12), às 15h. Estarão na coletiva, cujo local ainda não foi informado, a secretária da Criança e Juventude, Raquel Lira, o secretário da Casa Civil, Tadeu Alencar, e o presidente da Funase, Alberto Vinícius.

O tumulto começou por volta das 17h no Pavilhão A, conhecido como Ala de Segurança, onde ficam os jovens que cometeram infrações mais graves. Os internos dizem que estão insatisfeitos com a atual administração. Três agentes socioeducativos foram feitos reféns durante três horas. A diretora Suzete Lúcio assumiu o comando em novembro do ano passado, no lugar do coronel Leandro da Silva.

Durante a confusão, o fogo ateado pelos reeducandos podia ser visto do lado de fora, assim como muita fumaça. Enquanto cerca de 30 policiais do Batalhão de Choque preparavam-se para entrar na unidade, pedras eram arremessadas pelos reeducandos contra eles. Após a entrada do Choque, disparos eram ouvidos a todo tempo, já que foram usadas balas de borracha e bombas de efeito moral para conter o tumulto.

Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
Após rebelião na noite de terça-feira, quarta também foi de tumulto na Funase do Cabo - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Após rebelião na noite de terça-feira, quarta também foi de tumulto na Funase do Cabo - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Após informação de fuga de internos, policiais procuram fugitivos no matagal - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Um dos internos que conseguiu fugir é recapturado pela PM - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Famliares se desesperam com nova rebelião na Funase do Cabo, na manhã desta quarta - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
Famliares se desesperam com nova rebelião na Funase do Cabo, na manhã desta quarta - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
Foto: Guga Matos/JC Imagem
Batalhão de Choque é acionado para controlar rebelião na Funase do Cabo de Santo Agostinho. - Foto: Guga Matos/JC Imagem
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Batalhão de Choque é acionado para controlar rebelião na Funase do Cabo de Santo Agostinho. - Foto: Guga Matos/JC Imagem
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Batalhão de Choque é acionado para controlar rebelião na Funase do Cabo de Santo Agostinho. - Foto: Guga Matos/JC Imagem

 

A cabeça do jovem que foi decapitado foi arremessada para o lado de fora enrolada num pano azul parecido com um lençol e coberto de sangue. O corpo foi posto de cabeça para baixo dentro da unidade. Segundo um infrator, de 18 anos, que não quis ser identificado, a vítima é conhecida como Geléia e tinha 18 anos. “Ninguém gostava dele porque ele dedurava todo mundo e também costumava bater nas pessoas sem motivo”, relatou.

Dois jovens de 18 anos conseguiram fugir, mas foram capturados minutos depois nas proximidades da unidade prisional. Além disso, um adolescente e um agente ficaram levemente feridos.

A expressão dos familiares dos internos que esperavam notícias do lado de fora era de desespero e angústia.A mãe de um menor infrator de 16 anos que se identificou apenas como Adriana, 30, contou que o filho reclama bastante da alimentação e de maus tratos. “Tem agente que não permite a entrada das mães nem das namoradas. No ano-novo mesmo não pude visitar meu filho”, lamentou. Ela disse que ficou sabendo da rebelião por outras mães. “Estamos nos juntando para denunciar os maus tratos”. O adolescente está na unidade há dois meses detido por assalto a mão armada.

» Ouça o depoimento da mãe de um dos internos para a Rádio Calheta:

RESPOSTA - À frente da direção da unidade há dois meses, Suzete Lúcio falou rapidamente com a imprensa quando chegou ao local. "Estamos tentando reorganizar a unidade com atividades interdisciplinares. Construímos uma quadra poliesportiva. Mas o problema é que estamos tentando ao máximo proibir a entrada de drogas e coibir a prostituição. Isto está deixando os internos chateados", defendeu-se.

De acordo com a assessoria de imprensa da unidade, antes de assumir a direção, Suzete Lúcio passou quatro anos como coordenadora administrativa. Além disso, ao contrário do que os familiares afirmam, o órgão informou que na semana do ano-novo os reeducandos receberam visitas da quarta-feira até o domingo.

INVESTIGAÇÃO - De acordo a delegada do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) Gleide Ângelo, a polícia já tem entre cinco e sete suspeitos, que serão ouvidos e, como são maiores de idade, poderão seguir para o Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima. "O cenário lá dentro é barbárie, tudo está destruído, queimado. Há muita pedra, mas ainda não achamos armas", descreveu.

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