O cirurgião Cláudio Amaro Gomes, 57 anos, e o filho, o bacharel em direito Cláudio Amaro Gomes Júnior, 32, foram presos no fim da tarde desta terça-feira (3) suspeitos de envolvimento no assassinato do médico paraibano Artur Eugênio de Azevedo Pereira, 35, dia 12 do mês passado. Desavenças profissionais entre a vítima e o colega de profissão podem ter motivado o crime. O corpo de Artur foi encontrado no bairro de Comporta, Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife e seu carro foi queimado na Guabiraba, na capital pernambucana. Os dois suspeitos já estão no Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, Grande Recife.
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Os dois foram indiciados por sequestro, homicídio duplamente qualificado (sem chance de defesa e com promessa de pagamento) e roubo. O filho do médico também foi autuado em flagrante por porte ilegal de arma, pois um revólver calibre 38 e seis munições foram encontrados em seu carro no momento da prisão. Ele já havia respondido processo por porte de arma em 1997, quando ainda era menor de idade, no Rio de Janeiro, mas não chegou a ser apreendido. Outros dois homens são suspeitos de participação no crime, mas ainda não há mandado de prisão expedido contra eles. Segundo a polícia, a vítima foi abordada em frente ao prédio onde morava, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, após voltar de uma visita a um paciente na noite do dia 12, no Hospital Português, no bairro do Paissandu. O corpo foi achado com quatro marcas de balas e sem documentos.
O delegado Guilherme Caracciolo, responsável pelas investigações, solicitou a prisão dos acusados após informações sobre os suspeitos terem se espalhado pelo aplicativo Whatsapp no último fim de semana. “Fiz o pedido para resguardar pai e filho, pois, com os boatos circulando na internet, eles poderiam sofrer algum tipo de atentado”, disse o delegado. O mandado de prisão temporária foi expedido pela juíza Maria Inês de Albuquerque, da 1ª Vara Criminal do Tribunal do Júri de Jaboatão.
A defesa sustenta que eles são inocentes. “Doutor Cláudio é um médico muito respeitado e não cometeu crime algum. Tanto ele quanto seu filho foram presos temporariamente, para que a polícia apresente provas da participação deles no crime, o que não aconteceu até o momento. Ainda não tive acesso ao inquérito, que já foi encaminhado à Justiça. Não posso fazer a defesa se não sei quais as acusações, mas garanto que tudo isso não passa de um equívoco”, explicou o advogado Altamiro Fontes, que integra a equipe responsável pela defesa da dupla.
Guilherme Caracciolo não forneceu mais informações a respeito das provas coletadas pela polícia. De acordo com o delegado, repassar esses dados agora atrapalharia as investigações. “Temos provas técnicas da participação de Cláudio Amaro como mentor do assassinato e de seu filho como participante da execução. Após concluir as investigações todos esses dados serão divulgados”, afirmou. Ainda segundo o delegado, Cláudio Amaro Gomes Júnior estava no carro que abordou Artur perto do prédio em que morava. O revólver encontrado no veículo do bacharel passará por perícia para determinar se esta foi a arma utilizada para executar o médico.
“Os dois presos ficaram calados durante a coleta dos depoimentos. Quando identificarmos os outros dois suspeitos poderemos concluir o inquérito e isso deve acontecer nos próximos dias. Caso sejam condenados por todas as acusações, pai e filho podem receber penas superiores a 40 anos”, concluiu Caracciolo.
Artur era um profissional admirado pelos colegas e pacientes. Ele trabalhou no Hospital das Clínicas (HC), da UFPE, chefiado por Cláudio Amaro Gomes. A nomeação de Cláudio diretor técnico do hospital teria sido por indicação do reitor e não teria passado pelo diretor-superintendente, Frederico Jorge.
Médicos afirmaram que Cláudio não dividia corretamente os honorários médicos das cirurgias e, por isso, Artur teria deixado a equipe dele. Segundo funcionários da área, após a chegada de Artur ao HC, muitos problemas começaram a ser resolvidos.
Colegas de Artur contam que, ainda em estágio probatório, ele precisava da aprovação de Cláudio para seguir trabalhando no HC. Cláudio teria dado nota baixa a Artur, que por causa disso poderia ser exonerado. Inconformado, ele contestou a nota na Justiça e entrou com um processo contra Cláudio.
Cláudio trabalhava como cirurgião cardíaco há dez anos, mas teria mudado de ramo – para cirurgia torácica – por não ter se destacado na área. Entre os colegas, é apontado por sua vaidade. Em 2010, atendeu o então presidente Lula, internado por hipertensão, durante passagem pelo Recife.
CASO - Artur Eugênio, 35 anos, foi morto a tiros após avaliar um paciente no Hospital Português na noite do dia 12. O corpo dele foi encontrado com quatro marcas de bala às margens da BR-101, no bairro de Comporta, em Jaboatão dos Guararapes. O carro dele estava sumido e foi encontrado apenas no outro dia, completamente queimado na Guabiraba, Zona Norte do Recife.
Em 2010, o médico Cláudio Gomes atendeu o então presidente Lula, que foi internado por hipertensão, durante sua passagem pelo Recife. Em setembro do ano passado, o médico cirurgião tomou posse como diretor técnico do ambulatório de Cirurgia Torácica do Hospital das Clínicas, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).