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Em tratamento há um mês no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na Zona Oeste do Recife, o paraibano Carlos Antônio dos Santos Freitas, 28 anos, conhecido como Carlinhos, tem conquistado toda a equipe da unidade de saúde que o atende. Cercado de uma série de cuidados por uma equipe multidisciplinar, o jovem continua a se distrair com videogame, mas também joga dama, dominó e faz atividades com bola durante as sessões de fisioterapia e terapia ocupacional.
“Carlinhos é muito cativante e cria laços conosco. Conversa com os médicos e até convida a equipe que faz a higienização do quarto em que ele está para jogar com ele. Além disso, chama todo mundo pelo nome”, conta a gerente de Atenção à Saúde do HC, Ana Caetano, que apresentou, na manhã desta quarta-feira, em coletiva de imprensa detalhes do tratamento clínico do paraibano, que iniciou o internamento com 420 quilos no último dia 9 de julho. Neste primeiro mês de tratamento, Ana Caetano informa que Carlinhos já apresenta redução de edemas das pernas. "A olho nu, percebemos que houve uma diminuição do volume dos membros inferiores."
Ainda não dá para saber quantos quilos ele perdeu porque as balanças tradicionais não suportam o peso do jovem. Por enquanto, a equipe do HC tem feito uma avaliação antropométrica (técnica de mensuração de partes do corpo) para verificar se houve redução de medidas. "A medição da circunferência do braço de Carlinhos é usada para avaliar perda de peso. Em um mês, o braço diminuiu cinco centímetros", diz a nutricionista Cristiane Marrocos, do HC.
Depois de Carlinhos ter passado por vários exames, os médicos concluíram que o rapaz não tem alterações genéticas e endócrinas que justifiquem a superobesidade. “Mas ainda não podemos afirmar com precisão que a alimentação, isoladamente, é a causa do peso a que ele chegou”, explica o chefe do Serviço de Cirurgia-Geral do HC, Álvaro Ferraz.
Para tentar levantar Carlinhos, que tem como maior sonho voltar a andar, fisioterapeutas do HC estão desenvolvendo um equipamento que será usado em um trabalho de reabilitação que tem como objetivo fortalecer a musculatura de Carlinhos e, em breve, tentar colocá-lo em pé. “Não desistimos de usar o guindaste oferecido pelo Hospital Esperança e que já foi usado para transportar um paciente com superobesidade. Apenas vamos utilizar, primeiramente, o equipamento que está sendo criado pelos fisioterapeutas para, em seguida, usar o guindaste”, justifica Álvaro.
Pelos relatos da família de Carlinhos, a nutricionista Cristiane Marrocos estima que alimentação de Carlinhos, antes do internamento no HC, chegava a 8 mil calorias. Para Álvaro Ferraz, essa ingesta era bem maior. “O cálculo que usamos é que, para manter o peso, ingerimos cerca de 35 calorias por quilo diariamente. Se pensarmos que Carlinhos deu entrada no hospital com 420 quilos, estimamos que comia quase 15 mil calorias”, explica o médico. Hoje, no hospital, o jovem tem um cardápio que oscila entre 3 mil e 5 mil calorias.
Carlinhos não tem doenças associadas à obesidade, como a maioria dos pacientes que passam por um processo de internamento para se submeter à cirurgia bariátrica. O jovem não tem diabetes e hipertensão. O quadro de desnutrição proteica (nível de proteína baixo no sangue, comum em pacientes habituados a seguir um cardápio rico em carboidratos e açúcares), diagnosticado na primeira semana de internamento de Carlinhos, está sendo controlado com a ingestão de proteínas (carnes magras) e suplementação.
Embora seja difícil dar prazos para a realização da operação, Álvaro Ferraz estima que, até outubro, Carlinhos deve colocar o balão intragástrico, que reduz no organismo a sensação de fome. "Os resultados mais eficazes em relação à perda de peso com a ingestão desse dispositivo vem em três meses. Se tudo acontecer como planejamos, ele deve ser submetido à cirurgia em janeiro", diz o médico.