JC – Quem é o bebê com microcefalia que pode receber aplicações de toxina botulínica tipo A?
EPITÁCIO ROLIM FILHO – São os pacientes que, por causa da espasticidade, têm um quadro de desequilíbrio muscular que pode levar a deformidades das mãos, pés e quadris, como luxação, condição mais temida por nós. Nesses casos, a substância é indicada a partir de 6,5 quilos. Até então, não temos visto efeitos colaterais e observamos resultados: há quadros de subluxação do quadril que não evoluiu; não piorou. Para a mão e cotovelo, também vemos melhora relevante.
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JC – Com que frequência, o paciente recebe as aplicações?
EPITÁCIO – Quando a indicação é para um padrão muscular espástico, a toxina botulínica deve ser prescrita a cada quatro ou seis meses, mas é preciso ver a criança a cada 30 dias. Usamos duas marcas da substância que são seguras para esses pacientes. Há 15 anos, aplico toxina para pacientes neurológicos e nunca vi efeito colateral. Até agora, já consegui evitar cirurgia em quase todos a partir do uso da toxina, de órteses e de fisioterapia. Mas é preciso seguir essas três indicações; não adianta fazer só uma delas.
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JC – É importante iniciar o tratamento de forma precoce quando houver indicação?
EPITÁCIO – Para qualquer paciente com hipertonia, vimos que, quando fazemos as aplicações de toxina botulínica bem cedo, o quadro praticamente desaparece um tempo depois, em comparação a um paciente que não usa a substância. Mas não sabemos se isso é uma coincidência; se é por se tratar de um quadro de hipertonia mais leve que iria mesmo desaparecer. E nos casos dos bebês com microcefalia, ainda é muito cedo para a gente dizer alguma coisa do ponto de vista científico. É necessário, pelo menos, ter um ano de acompanhamento com 20 pacientes, em média.