Bem-estar que nasce da rede de solidariedade

Ações de generosidade fazem bem não só a quem recebe a assistência, mas também às pessoas que se mobilizam para praticar a solidariedade
Cinthya Leite
Publicado em 17/12/2016 às 8:30
Ações de generosidade fazem bem não só a quem recebe a assistência, mas também às pessoas que se mobilizam para praticar a solidariedade Foto: Ashlley Melo/JC Imagem


Com a chegada da temporada natalina, valores como generosidade, bondade, compaixão e gentileza passam a preencher o dia a dia das pessoas, que ficam mais sensíveis para ajudar o próximo com gestos simples, palavras de conforto e incentivo, doações de brinquedos, roupas ou alimentos. São atos que fazem bem não só a quem recebe a assistência, mas também às pessoas que se mobilizam para praticar a solidariedade. Existe até uma explicação científica para a alegria sentida por quem se mobiliza pelo outro. “O sentimento experimentado por quem ajuda é de prazer. Há ativação do núcleo accumbens, região cerebral relacionada à sensação de bem-estar”, explica o psiquiatra e psicoterapeuta Amaury Cantilino, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Comissão Científica da Associação de Terapias Cognitivas de Pernambuco. 

O médico também ressalta por que, ao realizar uma ação solidária e praticar gentileza, o ser humano tem a chance de controlar melhor as tensões. “Quando alguém toma alguma decisão altruísta (comportamento em que ações de uma pessoa beneficiam outras), ele colabora com a percepção de que estamos juntos nas dificuldades. O altruísta tem chance maior de ser ajudado quando um problema aparece. Ele fica mais protegido, com maior sensação de pertencimento e, assim, menos vulnerável a situações estressantes.” 

E nesse contexto, há quem acredite como o verbo partilhar tem o poder de se traduzir na bondade, na humildade e na generosidade, sem que seja necessário esperar nada em troca, pois as mais simples ações de generosidade promovem felicidade. “É uma atitude que me motiva; é muito gratificante”, diz a advogada Antonieta Barbosa, ao falar sobre a corrente de solidariedade que criou, há quatro anos, quando conheceu a estudante Joyce da Silva, 8, no Núcleo de Apoio à Criança com Câncer, no bairro das Graças, Zona Norte do Recife. “Naquela época, ela pegava um ônibus com a mãe, todas as semanas, em Lagoa Grande (Sertão do São Francisco) para vir ao Recife e fazer tratamento para um tumor no cérebro que comprometeu a visão. Fiquei compadecida e decidi dar as viagens de avião até o Estado cumprir com a ação judicial para pagar os trechos aéreos, o que já acontece”, conta Antonieta, que acompanhou o tratamento, além de matricular Joyce no Instituto dos Cegos do Recife. “Foi lá onde ela aprendeu a se tornar mais independente e teve aulas de braile.”

Ela e Joyce têm em comum uma história de superação do câncer. Em 1998, Antonieta descobriu um tumor na mama esquerda, submeteu-se à cirurgia e reconstrução mamária. “Passei por tudo isso ao lado de bons médicos e com plano de saúde. Ainda assim, foi difícil”, relembra a advogada, que passou a ter um olhar especial para as pessoas com câncer. A mãe de Joyce, a dona de casa Francielda da Silva, 33, conta que não tem palavras para agradecer o apoio de Antonieta. “O mundo seria bem diferente se tivéssemos mais pessoas dispostas a ajudar os outros.”

APOIO

O clima proporcionado pelas festas de fim de ano faz com que a prática da solidariedade seja inserida na agenda das pessoas. “O período facilita a pergunta que muitas buscam e não sabem como responder: ‘como faz para ajudar?’. É nessa época que as pessoas têm a oportunidade de viver essa experiência pela primeira vez e, dessa maneira, o novo ano delas mudam”, acredita o empreendedor social Fábio Silva, idealizador e presidente do Porto Social, organização com sede na Ilha do Leite, área central do Recife, criada para acelerar projetos sociais. Ele coordena o Transforma Recife, plataforma que reúne dados de organizações não governamentais e cadastra voluntários que desejam dedicar tempo a causas sociais e, assim, abraçar o mundo da solidariedade. 

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