Elas têm conhecimento sobre o valor de hábitos saudáveis na prevenção das doenças e dominam as estatísticas sobre o câncer de mama, tumor que tem a maior mortalidade entre as mulheres no mundo. Dominar a ciência, contudo, não confere imunidade às fragilidades do organismo. Em depoimento à jornalista Cinthya Leite, as médicas Márcia Cristina Silva e Riana Araújo afirmam que um jaleco branco não livra profissionais de saúde das doenças e que, como qualquer mulher, enfrentaram o câncer com tudo o que a doença envolve: medo, suporte terapêutico, apoio familiar e fé.
Acostumada a acompanhar pacientes com câncer, a oncologista Riana Aurea Araújo de Barros, 45 anos, foi surpreendida, na véspera de Natal de 2014, por um dos sinais que chamam a atenção para suspeita de tumor na mama: um sangramento no mamilo. No primeiro dia útil do ano seguinte, submeteu-se à ressonância magnética e biópsia. Ainda em janeiro, passou pela mastectomia, seguida de 17 sessões de quimioterapia. Foi assim, rapidamente, que Riana travou uma batalha contra uma doença que a fez, de oncologista, virar paciente.
“O diagnóstico é sempre um susto. Por mais que essa frase pareça um clichê, é real. Mas não pensei no diagnóstico de câncer como uma sentença de morte. Com o tempo, tudo foi se acomodando e trazendo aprendizados”, relata Riana, que buscou força em ocasiões simples do dia a dia. “Passei a valorizar um abraço dos filhos e um café da manhã ao lado das pessoas que amo. Me senti abençoada por ter apoio de toda a família. Isso tem um peso enorme no tratamento”, acrescenta a médica, que é uma das participantes do Além da Cura (alemdacura.com), projeto cujo objetivo é desmistificar o câncer por meio de relatos de mulheres reunidos num documentário.
Aos poucos, Riana passou a ver como a doença é um caminho com novas lições e começou a abraçar o lema de que “cada sol que nasce é uma vida nova que começa” – uma máxima que a transmite ensinamentos. “Quando a gente tem câncer, o essencial se torna mais visível e palpável aos olhos”, frisa Riana, que se policiou para não se envolver, como oncologista, com o tratamento que ela seguiu.
“Consegui me controlar a ponto de não procurar mais informações do que já sabia sobre o câncer. Eu me entreguei de coração e alma a tudo o que foi proposto pela minha médica. E assim percebemos que um jaleco branco não nos dá imunidade a doenças”, relata a oncologista, que se tornou uma militante da importância do diagnóstico precoce da doença, capaz de salvar milhares de vidas.
De toda a trajetória contra o câncer de mama, ficou um aprendizado para a cardiologista Márcia Cristina: "antes de cuidar (do outro), a gente tem que se cuidar" (Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem)
Um câncer de mama, descoberto em fevereiro de 2016, após três anos sem realizar a mamografia, fez a cardiologista Márcia Cristina Silva, 45 anos, trocar de lado: abandonou o estetoscópio e o tensiômetro para viver como paciente. “Percebi que era câncer assim que vi as imagens da mamografia. Então, quando a minha amiga médica me deu o resultado, eu já tinha certeza do que seria”, conta Márcia, que relembra o susto que teve de imediato.
“Mas não entrei em desespero porque o momento em que recebi o diagnóstico foi de muito sentimento. Do consultório da minha amiga, fui dar um plantão. Isso foi numa sexta-feira. Na segunda, já fiz uma biópsia, que confirmou o resultado. Foi quando comuniquei ao meu marido sobre o câncer. Pouco mais de 20 dias, eu já estava sendo operada”, conta.
A cardiologista tinha vários nódulos malignos com calcificações. Passou pela retirada da mama e reconstrução imediata. “A seguir, fiz quimio e radioterapia. Todo o tratamento acabou em agosto do ano passado. Hoje faço hormonioterapia. Será assim por dez anos.” De toda a trajetória contra o câncer de mama, ficou um aprendizado: “antes de cuidar (do outro), a gente tem que se cuidar”. E ela tem transmitido esse recado neste Outubro Rosa. “Se Deus me deu essa perspectiva de ficar curada, não foi à toa”, acrescenta a médica, ao falar sobre o fato de a luta contra o tumor oferecer a oportunidade de se compartilhar informações sobre a importância do diagnóstico precoce e tratamento adequado.
Para seguir o processo terapêutico confiante, Márcia Cristina salienta que entregou todos os passos à médica que a acompanha. “Eu me despi da cardiologista e me coloquei como paciente mesmo. Se eu escolhi uma médica, é porque nela eu confio”, conclui.