Pelo menos dois mil pacientes atendidos pelo Centro de Reabilitação Física do Hospital Getúlio Vargas, no Cordeiro, Zona Oeste do Recife, tiveram o tratamento interrompido há três semanas por causa de uma reforma no setor. Indignados, fisioterapeutas reclamam da redução do espaço e pedem pressa na conclusão das obras. Segundo eles, a área do centro de referência, inaugurado em 2011, foi limitada a um terço da estrutura inicial. Ainda não se sabe quando os serviços serão retomados.
“Cheguei para fazer a fisioterapia e dei de cara com o lugar fechado. Minha dor só aumenta, não consigo mexer a mão direito e os dedos travam”, conta Adriana Maria Candida, 37 anos. A dona de casa sofre com a síndrome do dedo em gatilho e com a síndrome do túnel do Carpo, ambas causam muitas dores. Desempregada, não tem condições de continuar o tratamento. “Minha médica disse que telefonariam pra mim, mas não me deram prazo. Infelizmente, só posso aguardar e torcer para que as dores não aumentem.”
Segundo funcionários, a redução do espaço está sendo feita para acomodar outros dois setores do hospital: a nutrição e a copa. Eles contaram que anos atrás, um dos prédios da unidade apresentou rachaduras. Mas, a licitação para reforma só teria saído agora, quando o local já estava inutilizado.
Antes da reforma existiam três salas para terapia ocupacional; duas de fonoaudiologia, uma para psicologia (desativado por falta de profissionais); sala de espera e laboratórios de atividades, além de um ginásio com cinco boxes e diversas salas para fisioterapia de mão, respiratória, salas de avaliação, fisioterapia infantil e salas com maquinários. Hoje, existe uma sala de terapia ocupacional, uma de fono, um pequeno ginásio – onde os equipamentos estão amontoados – e um box para realizar eletro, termo e fototerapia. “Não podemos nos calar. Batalhamos tanto por esse centro de referência para ver agora ele sendo destruído”, lamenta a fisioterapeuta Fátima Maria Oliveira, que trabalha há 20 anos no HGV.
O ex-marceneiro Antônio Luiz França, 51 anos, mora em Primavera, na Zona da Mata do Estado, e fazia fisioterapia no HGV três vezes por semana. Com o tratamento interrompido, já sente as dificuldades. “Ando de cadeira de rodas e a fisioterapia ajudava muito. Sempre chegava em casa relaxado, tinha mais firmeza. Passei a sentir espasmos e as pernas travando.”
"Eu sinto bastante dor o tempo todo e as sessões eram os únicos momentos em que eu relaxava. O tratamento era leve, porque ainda precisava de autorização do médico para fazer os exercícios, mas já ajudava muito”, lembra o motorista Alberto Carlos Macêdo, 61 anos, que parou de trabalhar por causa das dores na coluna e não tem condições de pagar um tratamento particular.
Trabalhando há 25 anos no HGV e há quase quatro anos no centro, uma fisioterapeuta, que preferiu não ser identificada, diz que a interrupção dos serviços afeta a evolução dos pacientes. “Você vem com um trabalho contínuo para ajudar na flexibilidade e no fortalecimento dos músculos e, de repente, esse serviço é interrompido. Grande parte do tratamento se perde”, lamenta, explicando que o trabalho vai começar do zero.
Redução
Funcionários preveem que, com a diminuição da estrutura do Centro de Reabilitação Física do Hospital Getúlio Vargas, a capacidade de atendimento também será reduzida. O centro atendia cerca de 2 mil pacientes por mês e tinha uma lista de espera de 300 pessoas. “Era gente da Região Metropolitana e do interior. Ainda não sabemos como será após as reformas, mas acredito que haja uma redução de mais de 50%. O espaço não foi entregue, mas nós vimos a planta de como ficará”, pontua a fisioterapeuta Fátima Maria Oliveira, há 20 anos no HGV. Para a profissional, a situação é inaceitável.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que a readequação do Centro de Reabilitação faz parte de uma série de melhorias estruturais no HGV e que o prazo estimado para o fim da reforma é a próxima semana. Em relação ao serviço, afirmou que “os profissionais foram realocados para atendimentos em outras áreas do hospital e os atendimentos continuaram acontecendo em outros setores, como enfermarias e emergência”. A informação é desmentida por pacientes e funcionários do centro.
O órgão também pontuou que o serviço não será reduzido. “Estão sendo investidos cerca de R$ 150 mil nas melhorias. Essas obras buscam qualificar o atendimento aos usuários do SUS na unidade, bem como as condições de trabalho para os profissionais da unidade”, registra a nota.