'Situação lamentável', diz presidente da Amupe sobre saída de médicos cubanos

''A discussão ideológica não pode atrapalhar a população'', criticou José Patriota
JC Online
Publicado em 15/11/2018 às 9:40
''A discussão ideológica não pode atrapalhar a população'', criticou José Patriota Foto: Foto: ABr


O presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) e prefeito de Afogados da Ingazeira, José Patriota, criticou bastante a retirada dos profissionais cubanos do programa Mais Médicos das cidades brasileiras. Em entrevista ao programa Super Manhã, da Rádio Jornal, na manhã desta quinta-feira (15), Patriota classificou o presidente eleito Jair Bolsonaro como "mal-assessorada" e disse que ele demonstra "falta de conhecimento" do programa. 

Bolsonaro disse que impôs condições à Cuba que não foram aceitas, como aplicação de teste de capacidade e salário integral aos profissionais. O governo cubano considerou as declarações “ameaçadoras e depreciativas” por ter questionado a formação dos profissionais, retirou a participação no programa e ressaltou que os médicos da Ilha prestaram "valioso serviço ao povo brasileiro"

Patriota demonstrou preocupação, sobretudo, com a atenção básica, que é onde os médicos do programa mais atuam nas cidades do interior. "Como ficam os grupos de riscos? Diabéticos, hipertensos. Esses médicos ajudam muito os municípios, eles são indispensáveis. Os 'novinhos' (médicos brasileiros recém-formados) saem dos cursos, passam seis meses no interior e voltam para fazer residência. Eles não ficam. Isso nos preocupa muito. Tem 'menino' saindo da residência que não vai ao interior enfrentar a realidade dura que se encontra lá", disse.

Ele também considerou a decisão de Bolsonaro "ideológica", que só prejudica o atendimento da população mais carente. "As regras do outro país eles fazem lá. Não podemos interferir na soberania nacional. Os próprios médicos não estão reclamando. Eles voltam à Cuba para passear".

Ouça a íntegra da entrevista

 

Cubanos em Pernambuco

No Estado, são 414 médicos de Cuba trabalhando nos mais diversos municípios. O Ministério da Saúde informou que vai lançar editais, nos próximos dias, para substituir os médicos cubanos que devem ficar no programa até o dia 31 de dezembro. “A saída dos cubanos é uma perda irreparável. A comunidade vai ficar desassistida até que ocorra a substituição. Quem vai perder mais com isso é a população mais pobre. Há um médico cubano que está conosco há quatro anos. Os cubanos são comprometidos com a carga horária, o atendimento, fazem visitas domiciliares. Essa foi uma atitude desastrosa”, comenta a secretaria de Saúde de Gameleira, Joselma Costa.

Localizada numa das regiões mais pobres de Pernambuco, Gameleira está na Mata Sul do Estado. A cidade tem cerca de 27 mil habitantes e está a 99 km de distância do Recife. Toda a estrutura de atendimento à saúde básica do município tem oito médicos, incluindo cinco do Mais Médicos, sendo dois cubanos. “Aqui, quando os cubanos vão embora, os pacientes choram. Já estou imaginando o impacto que isso vai ter”, diz Joselma. Ela explica que a diminuição de médicos no município vai fazer mais pessoas procurarem o hospital regional da região, em Palmares, e, posteriormente, as unidades do Recife que, em sua maioria, já apresentam superlotação.

Histórico do programa

O Mais Médicos foi implantado em 2013 pela presidente Dilma Rousseff (PT). Os cubanos correspondem a 45% das vagas dos Mais Médicos e atuam principalmente em pequenas cidades. O Estado tem 414 médicos cubanos que fazem parte do Programa. Nele, o governo federal banca os salários dos médicos, no valor de R$ 11.865,00, e as prefeituras ficam responsáveis pela moradia e alimentação dos profissionais. Esse salário é pago pelo governo brasileiro à Opas (Organização Panamericana de Saúde), que repasse parte aos médicos cubanos. Profissionais brasileiros e de outras nacionalidades recebem o valor integral.

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