Em três anos, se colocarmos na ponta do lápis, Pernambuco já soma 1.273 cirurgias robóticas realizadas. Desde 25 de abril de 2016, quando o Hospital Santa Joana Recife inaugurou o primeiro centro de robótica no Estado, os procedimentos desse tipo não só têm se expandido em números, mas também se destacam entre as diversas especialidades médicas. Como em todo o mundo, a urologia é o carro-chefe da aplicação dessa tecnologia, que também tem revolucionado os procedimentos cirúrgicos em outras áreas de atuação da medicina: cirurgia-geral, coloproctologia, bariátrica, cabeça e pescoço, ginecologia e torácica. Esse cenário torna Pernambuco um polo de referência no tratamento de diversas doenças, no treinamento e na capacitação em robótica para a classe médica.
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“Nos últimos três anos, assistimos a uma explosão na instalação de novas plataformas robóticas em todo o País, o que levou a uma disseminação e popularização dessa tecnologia. Mais de 40 robôs estão em operação atualmente, em todas as regiões brasileiras, com mais de uma centena de profissionais habilitados e praticando a cirurgia robótica em várias especialidades”, destaca o chefe da Urologia e Coordenador do Programa de Cirurgia Robótica do Hospital Esperança Rede D’Or Recife, Misael Wanderley dos Santos Jr. Para ele, a consequência tem sido o avanço no número de procedimentos, por vias robóticas, nos últimos três anos – mais do que nos primeiros sete anos da década desse tipo de procedimento no Brasil.
“Em 2008, foi realizada a primeira cirurgia robótica do País, em São Paulo. Durante cerca de sete anos, esse ‘privilégio’ ficou restrito a dois principais hospitais privados da capital paulista, com poucas especialidades trabalhando com esta tecnologia, que tem como principais vantagens pouca agressão cirúrgica e pequena perda de sangue, menor taxa de transfusão sanguínea, pequeno tempo de recuperação e poucos dias de permanência hospitalar”, acrescenta Misael, cujo programa que coordena no Esperança tem 20 cirurgiões habilitados e certificados para operar com auxílio do robô. O hospital foi o segundo a implantar, no Estado, a tecnologia, poucos dias após o Santa Joana.
O trabalho diário para possibilitar uma cirurgia tecnicamente mais perfeita e, consequentemente, uma recuperação mais rápida para o paciente também é uma realidade para o time de robótica do Santa Joana, que conta atualmente com cinco cirurgiões robóticos (três urológicos e dois gerais), além de outros cinco em treinamento. “Realizamos, por mês, 20 procedimentos com essa tecnologia, e a previsão é chegar a 45 operações com o robô mensalmente. Vamos brevemente incorporar, ao nosso centro, a especialidade de cabeça e pescoço para tratar cirurgicamente, por exemplo, doenças da tireoide”, informa o coordenador do Centro de Robótica do Santa Joana, Gilberto Pagnossin. Otimista com a popularização e avanço do segmento, ele acredita que o Brasil caminha para uma tendência de democratização das cirurgias robóticas. “Estamos falando de uma tecnologia que veio para ficar e que progressivamente tem se tornado mais acessível, seguindo o mesmo caminho da laparoscopia”, completa.
As ferramentas informatizadas dos robôs superprecisos podem até despontar como o grande diferencial, mas elas necessitam de médico habilitado para tornar viáveis cirurgias de grande porte (como a bariátrica, aliada no tratamento da obesidade). Ou seja, o robô não conduz movimentos sozinhos. Através de um console, o cirurgião é responsável por todos os movimentos executados pelo plataforma robótica. A realidade é que os avanços tecnológicos começam a mudar intensamente o papel do médico nas salas de operação. “É o homem quem direciona os procedimentos. A robótica requer treinamento e cuidado humanos”, reforça Gilberto Pagnossin, cujo programa que coordena se tornou pioneiro ao realizar a primeira cirurgia robótica de cabeça e pescoço do Norte e Nordeste.
Durante o procedimento, realizado em fevereiro deste ano, foi retirado um tumor da glândula salivar direita de um paciente. A utilização da robótica em procedimentos desse tipo permite que os médicos tenham mais precisão e que a recuperação seja mais rápida e simples, já que o corte é mínimo, atrás da orelha, diferentemente do procedimento tradicional, em que o corte é frontal, no pescoço.
Da Vinci Xi
No mesmo mês da realização dessa cirurgia, Pernambuco se destacou mais uma vez no segmento, com a chegada do mais moderno sistema cirúrgico robótico do mundo: o Da Vinci Xi, adquirido pelo Real Hospital Português (RHP), que inaugurou o seu programa de robótica naquela ocasião. A primeira cirurgia foi feita em 17 de fevereiro para tratamento do câncer de próstata. O procedimento foi comando pelo urologista Clovis Fraga, gerente do Programa de Cirurgia Robótica do RHP. Desde então, a equipe opera com regularidade e contabiliza 25 procedimentos com a plataforma. Além da urologia, a robótica do hospital inclui bariátrica, oncologia, ginecologia e torácica.
O robô Da Vinci Xi é composto por quatro braços mecânicos, controlados pelo cirurgião por meio de um console. O médico opera com imagens em alta definição e visão em três dimensões. Além disso, a máquina reduz tremores não voluntários, ajuda a dissecar e suturar com maior precisão. “Agora, com três hospitais que realizam cirurgias robóticas no Estado, os pacientes conhecem mais a tecnologia e passaram a procurar os centros locais como opção real para o tratamento cirúrgico com o robô. Antes, muitos se deslocavam até São Paulo ou para outros países para se operar”, diz o gerente do Programa de Cirurgia Robótica do RHP. O depoimento do médico nos deixa claro que as plataformas dos robôs são um caminho sem volta, mas que caminham de mãos dadas com a medicina para humanizar o cuidado com os pacientes e salvar vidas.