Atualizada às 17h39
As manchas de óleo que voltaram a aparecer no litoral pernambucano na quinta-feira (17) e já atingiram pelo menos 187 praias nordestinas podem causar impacto na saúde humana, ainda que em pequena escala, se comparada aos danos ao ecossistema local.
De acordo com especialistas, o poluente pode desencadear doenças respiratórias e de pele. Para o médico toxicologista Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica da Universidade de São Paulo (USP), o contato com a substância é semelhante ao ato de inalar ou passar gasolina ou querosene na pele.
"O petróleo é resultante da decomposição de matéria orgânica presente no planeta há milhões de anos, formando uma mistura de hidrocarbonetos como tolueno, xileno, benzina e benzeno. Sendo assim, o risco se assemelha ao de inalar ou passar gasolina ou querosene na pele", afirma.
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Segundo Wong, é difícil precisar a toxicidade do óleo em questão, porque cada poço de petróleo é gerado a partir da decomposição de plantas, animais e outros materiais orgânicos provenientes de fontes distintas.
"Alguns petróleos têm mais substâncias tóxicas, outros menos. Os que possuem mais benzeno em sua composição podem, em casos mais graves, provocar alterações neurológicas e até leucemia", explica.
Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Luiz Fernando Fleury, afirma que contato do óleo com a pele pode causar uma lesão chamada elaioconiose, mais conhecida como dermatite de contato aguda. "O contato prolongado pode levar a elaioconiose, uma lesão por obstrução de poros", diz.
Já o professor de Toxicologia e Química Clínica da USP e membro do conselho consultivo da Sociedade Brasileira de Toxicologia, Daniel Junqueira Dorta, explica que a inalação dos gases liberados com a vaporização do petróleo pode levar a quadros de doenças respiratórias, como bronquite e asma.
"O maior problema acaba sendo uma pneumonia química causada pela aspiração dos hidrocarbonetos, que também pode levar a uma depressão do sistema nervoso central", afirma.
Os especialistas são unânimes ao afirmar que, para que a situação chegue a altos níveis de gravidade, é necessário que a pessoa tenha contato repetido e prolongado com o óleo, a ponto de o organismo absorver e jogar as substâncias tóxicas na corrente sanguínea.
Eles também dizem que, embora a quantidade de óleo encontrada nas praias nordestinas seja grande, não é suficiente para apresentar grandes riscos à população local.
"Em geral, essas pessoas estão em ambiente externo, então não vão ser expostas à inalação de altas concentrações dos hidrocarbonetos", explica Wong. "O problema seria se estivesse em ambiente fechado ou se houvesse quantidade muito maior no mar, porque haveria vaporização constante, fazendo com que, eventualmente, as pessoas que moram na região absorvessem as substâncias tóxicas", completa.
Cuidados
Segundo a bióloga e professora de Gestão Ambiental da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Soraya El-Deir, é necessário suspender as atividades nos locais atingidos, para evitar o risco de contaminação e intoxicação, já que o petróleo solúvel em água é o que mais penetra na pele.
"Tem que tomar cuidado na hora em que for às praias. A recomendação é suspender as atividades dessa faixa litoral, pois existe o risco real de contaminação e intoxicação", disse El-Deir.
As pessoas que encontrarem o óleo não devem tocar nele sob o risco de contaminação. Essa é a orientação dada pela Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH). De acordo com o diretor de Controle de Fontes Poluidoras do órgão, Eduardo Elvino, o banhista não deve tentar manusear a mancha sem a presença de especialistas ou com as mãos desprotegidas.
Em caso de contato com a pele, deve-se lavar o mais rápido possível com água e sabão, afirma o professor de toxilogia da USP, Daniel Dorta. Ele explica ainda que em caso de ingestão, a pessoa deve procurar um hospital para fazer o tratamento adequado.
"Em caso de ingestão, o tratamento recomendado é oferecer carvão ativado para o paciente, para evitar a absorção da substância e promover uma eliminação mais fácil pelo organismo", diz Dorta.
Para a professora Mônica Costa, do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a melhor solução é manter distância do produto, isolando as praias até que se consigam informações mais completas sobre a substância. “A fim de preservar a vida e a saúde das pessoas, é importante não tomar banho, pescar ou comer nas praias afetadas”, diz.
Conforme o Ibama, até ontem não havia evidências de contaminação de peixes e crustáceos, mas a orientação é para que a qualidade do pescado capturado nas áreas afetadas para fins de consumo humano seja avaliada pelo órgão de vigilância sanitária.