Faltou emoção na montagem de "Hamlet"

Grupo potiguar Clowns de Shakspeare estreou peça no último sábado, dentro do Janeiro de Grandes Espetáculos
Mateus Araújo
Publicado em 21/01/2013 às 11:02


Um Shakespeare brechtiano. O grupo potiguar Clowns de Shakespeare estreou no último sábado (19), no Santa Isabel, no Recife, sua versão de Hamlet. Uma montagem com direção de Marcio Aurelio, cuja proposta era se desvencilhar da linguagem cômica da companhia e mergulhar na tragédia inglesa.

O texto foi escrito entre os séculos 16 e 17. É a história do príncipe Hamlet que deseja vingar a morte do seu pai. O rei foi envenenado pelo irmão, Claudius, que depois tomou o trono e casou-se com a rainha viúva. Hamlet vive entre uma loucura real e uma fictícia, que foi a maneira que achou para executar seu plano de vingança. É um roteiro denso e trágico, com personagens complexos e intrigantes. Características que se perderam na montagem do Clowns.

A direção de Marcio é norteada pelo universo épico de Bertold Brecht. As marcações em cena prezam por uma postura corporal ereta, passos e gestos herméticos. A teatralidade usada é um recurso que Marcio achou para criar uma versão de poética da representação: os loucos são os outros; Hamlet é o normal – o que justifica a maquiagem pálida dos personagens, exceto a do príncipe. O texto oscila entre prosa e verso, primeira e terceira pessoa.

A montagem terminou sem uma definição das emoções. O protagonista, Joel Monteiro, não convence; Renata Kaiser como a Gertrudes é artificial; o Horácio de Dudu Galvão é prejudicado pela voz do ator; e a Ofélia de Titina Medeiros é ruim. Marco França faz Claudius com muitos trejeitos forçados, mas é bem no papel do Fantasma. Quem se destaca no trabalho é César Ferrario, que dá boa interpretação a Polônio e Laertes, e as atrizes Camille Carvalho (Rosencrantz) e Paula Queiroz (Guildenstern). Em resumo, é um elenco heterogêneo.

Uma cortina preta é o fundo de cena, nos primeiros momentos da peça, e depois é trocada por uma vermelha, quando Hamlet sai do luto para a busca de vingança. Há um andaime no centro do palco, que é relocado muitas vezes, com uma porta de metal corrediça. É um recurso muito interessante, usado em transições de cenas e entrada de personagens. A luz é boa. O figurino, simples e contemporâneo, é acertado. A trilha sonora é crua, quase não existe. Com o tempo, o espetáculo pode evoluir e amadurecer.

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