José Pimentel confirma receber ameaças por causa de dívidas da Paixão de Cristo

Prestes a deixar de interpretar o papel, ator e diretor diz que não recebeu os patrocínios para honrar os pagamentos
Bruno Albertim
Publicado em 15/09/2017 às 19:35
Prestes a deixar de interpretar o papel, ator e diretor diz que não recebeu os patrocínios para honrar os pagamentos Foto: Divulgação


Quarenta anos depois de ter começado a interpretar o Jesus da Paixão de Cristo e prestes a abandonar o papel que se confunde com a sua vida, o ator e diretor José Pimentel, 83 anos, enfrenta novos problemas devido ao espetáculo. Como a produção não recebeu ainda os valores firmados nos acordos de patrocínio com os cofres públicos, ele diz que está sofrendo ameaças por parte dos prestadores de serviço na montagem.

“São ameaças veladas, insinuações. As pessoas vêm aqui em casa e dizem que vão tomar outras providências caso o pagamento atrase mais um mês”, diz Pimentel. Cinco meses após a realização do espetáculo, a Prefeitura do Recife e o Governo do Estado ainda não pagaram o patrocínio. “Diante de tanta safadeza e desconfiança que existem no mundo, eles pensam que a gente ‘comeu’ o dinheiro, que está enganando. Já ouvi isso de alguns partipantes. É muito constrangedor. Muitos ameaçam, dizem que vão para a Justiça. Já outros fazem ameaças pessoais, físicas, que até agora só ficaram nas ameaças por enquanto”, diz.

São cerca de cem atores e trezentos figurantes, além de equipe técnica e artística, não receberam os seus pagamentos da temporada realizada em abril deste ano. O Governo do Estado e a Prefeitura do Recife devem, respectivamente, R$ 150 e R$ 250 mil à produção do espetáculo. “É um absurdo que o poder público se comprometa e não cumpra suas obrigações no tempo devido. São muitas pessoas envolvidas, que trabalharam e precisam receber”, diz Paulo de Castro, presidente da Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe).

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Secretaria de Cultura e a Fundação do Patrimônio diz que pagou os cachês dos músicos Ed Carlos, Beto do Bandolim. Dos que tocaram na abertura do evento, apenas Somente o cachês deste último ainda não foi pago, apenas Claudionor Germano teria ainda o cachê firmado com a Fundarpe não ainda pago. A Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura, informa que está concluindo os trâmites legais e que o repasse dos recursos assegurados para a Paixão de Cristo será realizado até o fim deste mês de setembro.

FIM DE JORNADA


O veteraníssimo José Pimentel enfrenta esses problemas justamente no momento em que se prepara para deixar de fazer o papel de Cristo. São 40 anos ininterruptos defendendo o papel. Antes de lançar a Paixão de Cristo do Recife, o ator protagonizou o espetáculo de Nova Jerusalém. De novo, ele será substituído.

Há 21 anos, os produtores de Nova Jerusalém resolveram apostar em atores famosos, conhecidos pelo grande público através da televisão, para atrair mais público para o espetáculo do Agreste, nacionalmente conhecido. José Pimentel não tinha ideia do quanto o espetáculo tomaria conta da sua vida quando foi a primeira vez à Fazenda Nova, em 1956. “Na época, eu era halterofilista. Então, fui chamado por Octávio Catanho [ator, diretor e cenógrafo] para vestir a roupa de romano e mostrar os músculos”, lembrou, rindo, numa entrevista ao JC. Em 1962, com o sucesso de público, Plínio Pacheco resolveu criar a Nova Jerusalém, com a contribuição direta de Pimentel.

Agora, os produtores da Paixão de Cristo do Recife entendem que um novo protagonista deve ajudar a renovar o público do espetáculo. Aos 83 anos, Pimentel pretendia aina continuar fazendo o papel de Jesus Cristo. “Não era minha inteira vontade deixar de fazer o papel. Vou deixar de fazer mais pela vontade dos outros ”, diz Pimentel que, contudo, seguirá assinando a direção da montagem.

Os produtores seguem, até metade de outubro, selecionando atores para o papel. Os candidatos devem ter, expressamente, entre 25 e 35 anos de idade. Na Paixão de Cristo deste ano, Pimentel superou problemas de saúde para atuar. Em dezembro, havia passado 12 dias internado depois de uma cirurgia para tratar hérnia inguinal e de complicações como uma embolia pulmonar.

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