Em 'Solo de Guerra', Cleyton Cabral se posiciona contra a homofobia

Peça toca em memórias pessoais e coletivas e é encenada no Espaço Poste
Márcio Bastos
Publicado em 14/10/2017 às 15:19
Peça toca em memórias pessoais e coletivas e é encenada no Espaço Poste Foto: Ricardo Maciel/Divulgação


País que mais mata LGBTs no mundo – até setembro desde ano a ONG Grupo Gay da Bahia contabilizou 277 assassinatos, maior média desde que começaram os registros – o Brasil tem uma grande dívida com a comunidade e outras minorias, a exemplo dos negros, mulheres e indígenas. As violências físicas e psicológicas sofridas por esses grupos têm reverberações profundas. Revelar, pois, a força das vivências – dores, felicidades, expectativas e frustrações – dos silenciados é uma forma de empoderamento e transformação. É com esse intuito que Cleyton Cabral desenvolveu Solo de Guerra, obra que estreia hoje, às 20h, no Espaço Poste.

Para o trabalho, que marca a estreia dele nos solos, o artista convidou Luciana Pontual para assumir a direção. Juntos, foram desenvolvendo cenas ao longo dos ensaios, revelando memórias do intérprete misturadas a experiências coletivas, muitas delas sustentadas por (tristes) dados reais.

“O tema da homofobia tem me incomodado há tempos. Gostaria de não precisar fazer o espetáculo para falar disso, mas com o histórico do país, a forma como estamos encaretando com o conservadorismo latente, senti que precisa me posicionar enquanto artista”, pontua Cleyton.

ESCANCARANDO ARMÁRIOS

No solo, Cleyton, que também assina a dramaturgia, interpreta um homem em conflito com seu passado, travando uma batalha interior para expurgar alguns de seus demônios. Essa guerra ocorre em lugares fechados – no íntimo do personagem, no quarto e na memorabilia da infância.

Para o artista, o fato do espetáculo tocar em questões como bullying, relações afetivas na infância e sentimento de deslocamento deve reverberar com experiências de vários espectadores, independente do gênero e da orientação sexual.

“É um trabalho que toca muito nas consequências dessa cultura machista e patriarcal. Como levar esse tema para o palco sem ser panfletário? Foi doloroso porque cascavilhei memórias minhas e de pessoas próximas. Vivemos um momento obscuro, com a homossexualidade voltando a ser tratada como doença, exposições sendo fechadas. Trabalhar esse tema foi desafio, mas acho que falar sobre essas questões é, em si, um ato político”, reflete.

Os ingressos da sessão de hoje estão esgotados, mas o solo cumpre curta temporada dias 4 e 11 de novembro, também no espaço Poste (rua da Aurora, 529, Boa Vista). As entradas custam R$ 30 e R$ 15 (meia).

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