Há mais de uma década trabalhando questões relacionadas às identidades afrodescendentes em Pernambuco, o grupo Poste Soluções Luminosas sentia a necessidade de dialogar com outros artistas e coletivos com pesquisas e inquietações similares. Para eles, era urgente que o estado aderisse ao movimento de valorização de obras produzidas por artistas negros que já se consolidava em locais como Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais. Desse desejo nasceu o Luz Negra – O Negro em Estado de Representação, mostra que inicia atividades nesta quinta-feira (19), às 20h, no Teatro Santa Isabel.
Por muito tempo ignoradas pelo status quo, discussões relacionadas às questões raciais têm eclodido em diferentes frentes. Nas artes, ações que problematizavam esses assuntos e costumavam acontecer de forma isolada, agora se atraem como reflexo do zeitgeist, amplificando a premência de tirar o pano que cobre as questões ligadas às minorias. Exemplo disso é o fato de, além do Luz Negra, o Feteag e, a partir da próxima semana, o Cena Cumplicidades, também voltarem suas atenções para a negritude.
“Visualizamos esse projeto como um momento de troca, como uma celebração da resistência dos artistas negros neste país. Fazer a noite de abertura no Santa Isabel é muito simbólico, porque é um templo das artes cênicas e, por muito tempo, foi cerceado o acesso aos negros, principalmente em cima dos palcos. Esperamos que Pernambuco agora se insira neste circuito de ações voltadas para a valorização da cultura negra”, explica Naná Sodre, do Poste.
A viabilização da mostra, que segue até o dia 29, foi possível graças ao 4º Prêmio Nacional de Expressões Culturais. O apoio, ressalta Naná, foi essencial para, além de artistas pernambucanos, o evento contará com as apresentações de Isto Não É Uma Mulata, de Mônica Santana (BA), e Senhora dos Restos, de Isabel Santos.
A noite de hoje contará com homenagem a figuras seminais na luta por visibilidade do negro no Estado. São elas: a, escritora Inaldete Pinheiro, o Mestre meia-noite, Mãe Amara, do Ilê Obá Aganjú Okoloyá, e o artista plástico Petrúcio Nazareno.
Em seguida, acontecerá um espetáculo especial que une diferentes linguagens, com solos de Helayne Sampaio (dança dos orixás), Surama Ramos (ópera); Luzir Santos (balé clássico), e apresentações de dança de Neguinho do Frevo, Manuel Castomo, Orum Santana, além de performance da drag Gina Purpurina.