CRISTÃO

Monge Marcelo Barros sai em defesa de peça sobre Jesus com atriz trans

A montagem de O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, que aconteceria no FIG, foi alvo de disputa política, pressão religiosa e até disputa judicial

JC Online
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Publicado em 01/08/2018 às 17:42
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A montagem de O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, que aconteceria no FIG, foi alvo de disputa política, pressão religiosa e até disputa judicial - FOTO: Facebook/Reprodução
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O monge beneditino Marcelo Barros, ex-secretário de Dom Helder Camara, publicou nesta terça (31/7) um texto em defesa da peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, interpretada pela atriz trans Renata Carvalho, que foi alvo de disputa política, pressão religiosa e até disputa judicial depois de ser anunciada na programação do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG 2018).

Após críticas do prefeito de Garanhuns, Izaías Régis, e da pressão da Diocese de Garanhuns – que afirmou que não cederia a Catedral para outros eventos do FIG se a peça continuasse na programação –, a encenação foi retirada pela Secretaria de Cultura da programação do evento.

“Não tive oportunidade ainda de ver a peça ou ao menos ler o texto. Sei que, também muitos dos que a condenam não a viram nem querem saber do seu conteúdo”, começa o religioso cristão no seu texto.

Marcelo Gomes continua no texto: “Ainda há cristãos que acham que Jesus não pode ser representado por uma transexual. O Jesus no qual creio se identificou com todos os que sofrem discriminações sociais e são mal vistos pela sociedade. Naquele tempo, se acreditava que as pessoas eram doentes ou sofriam porque haviam pecado. Jesus rompeu com essa crença. Solidarizou-se a tal ponto com os marginalizados e excluídos da sociedade que afirmou: ‘Eu tive fome e me deste de comer. Tive sede e me deste de beber. Estava nu e me vestiste, preso e me visitaste...’. ‘Todas as vezes que fizestes isso a um desses pequeninos foi a mim que fizestes’ (Mt 25). Aos professores da Bíblia que se julgavam mais perto de Deus, ele chegou a dizer: ‘Os cobradores de imposto e as prostitutas chegarão antes de vocês no reino dos céus’ (Mt 21, 31)”.

FUNDAMENTALISTAS

Para ele, a pressão para censura da peça aconteceu por conta de “cristãos que leem a Bíblia de modo fundamentalista” e se sentem “agredidos porque ao chamar Jesus de ‘rainha’, a peça estaria insinuando ofensas à masculinidade de Jesus”. “Provavelmente, esses irmãos não sabem que toda a Teologia feminista atual tenta recuperar a dimensão feminina presente no Cristo. Fazem isso não para negar a masculinidade de Jesus de Nazaré, mas para reafirmar a universalidade de sua atuação, na qual homens e mulheres podem se sentir representados”, continua o monge.

Marcelo Barros ainda lembrou que a peça foi encenada e aplaudida, no ano passado, em uma Igreja evangélica em Curitiba. “Parabéns para os irmãos e irmãs que enfrentam essas tensões e mantêm sua profecia evangélica. Que Deus abençoe a atriz Renata Carvalho e a autora da peça a escocesa Jo Clifford, assim como a todos/as que fazem essa produção teatral. Deus não assinou contrato de exclusividade com ninguém. A última vez que, no Brasil, alguém se colocou como proprietário de uma empresa com o nome de Jesus.com foi o ex-deputado Eduardo Cunha que abriu essa marca ligada à Assembleia de Deus da Madureira, RJ, para onde desviou milhões de reais”, lembrou ainda o amigo de Dom Helder.

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