Abrazo, peça infantil do grupo Clowns de Shakespeare (RN) que tem como tema o cerceamento da liberdade, será apresentada em sessão única hoje, às 17h, no Teatro Apolo. A encenação acontece logo após um protesto marcado para começar às 15h, na Praça do Arsenal, e que seguirá até a Caixa Cultural, instituição que cancelou abruptamente a temporada do espetáculo, no último fim de semana, alegando quebra contratual. Artistas, produtores e membros da sociedade civil exigem explicações da instituição federal e enxergam censura na atitude da Caixa.
A mobilização de hoje acontece exatamente uma semana após o cancelamento da segunda sessão de Abrazo, que estava marcada para as 18h, e das duas sessões do domingo. O grupo, que tinha agendadas ainda quatro apresentações neste fim de semana, além de uma oficina, teve seu contrato com a Caixa rescindido.
Sem detalhar as razões, a instituição afirmou aos Clowns que eles teriam infringido o inciso VII da Cláusula Quarta, que prevê que a contratada seja obrigada a “zelar pela boa imagem dos patrocinadores, não fazendo referências públicas de caráter negativo ou pejorativo”, como informou o coletivo em nota publicada em suas redes sociais.
Ainda segundo o texto do grupo, a Caixa teria dito que o descumprimento do contrato aconteceu durante o debate realizado após a primeira sessão do sábado. A nota também informa que o grupo abriu um processo judicial, na quinta (12), apresentando um pedido de tutela antecipada em caráter antecedente, junto à 2ª Vara Federal da Justiça Federal/PE.
“No debate, entre outras coisas, falamos sobre o momento do País, mas não citamos nomes ou lugares. Também estamos muito curiosos para saber o que aconteceu porque claramente não sabemos qual o recorte e que roupagem eles estão tentando dar a isso. Foi um bate-papo normal, como a gente já fez inúmeras vezes”, afirmou Fernando Yamamoto, um dos fundadores do Clowns de Shakespeare, coletivo que tem 26 anos.
Segundo ele, a mobilização dos artistas recifenses comoveu o grupo. Sem muito contato com a cena local, os artistas se sentiram acolhidos pelos seus pares em um momento no qual ainda se sentem perplexos diante do cancelamento. O apoio, inclusive, tem vindo de todo o País, com vários artistas e entidades se manifestando contra a atitude da Caixa.
“É uma mobilização que não está acontecendo só por conta do nosso ciclo de relacionamento. Entraram em contato com a gente e ficamos movidos a tentar fazer uma apresentação como um ato de resistência, simbólico. O que aconteceu com a gente é só a materialidade de algo muito maior. Sabemos que essa apresentação não contemplará todos que querem ver a peça devido à capacidade do teatro, mas queremos pelo menos fechar este ato pela liberdade com o próprio espetáculo”, afirma.
A apresentação será gratuita, mas o grupo pretende passar o chapéu após a sessão a fim de amenizar os prejuízos que teve com o cancelamento, incluindo gastos com transporte, hospedagem, alimentação e divulgação.
PREJUÍZO
“Estamos saindo com um enorme prejuízo. A sorte foi que aconteceu aqui e não em Curitiba (onde o grupo tinha apresentações marcadas para o fim do ano também pela Caixa), que é mais perto de Natal”, relata.
“Vivemos um duplo impacto: enquanto grupo, a gente sabe que isso vai ecoar no grupo de diversas formas, negativas e algumas positivas, mas a gente sabe que esse é um precedente que a gente vai ter que conviver. Isso está tendo reverberação nos nossos corpos; muitos integrantes adoeceram. Tem sido uma semana difícil, mas, por outro lado, a gente sabe que essa questão é maior do que nós e, por isso, é importante que ela se esclareça.