O Theória é um encontro anual no qual se reflete sobre a imagem e suas diversas possíveis abordagens. Nesta quinta-feira (6/11), a jornalista Adriana Guarda e o fotógrafo Heudes Regis, ambos do Jornal do Commercio, são os convidados de uma das quatro conferências programadas para este dia - o terceiro do evento promovido pela Fundação Joaquim Nabuco, que termina neste sábado (8/11). Eles conversam com o público, a partir das 19h, sobre o tema Olhar itinerante: um retrato do nomadismo contemporâneo. Sexta-feira (7/11), os fotógrafos Ricardo Labastier (também do JC) e Fernanda Chemalle (RS) e participam da mesa-redonda Sertões nômades, às 15h30. Em seguida, é inaugurada a mostra deles em conjunto com o fotógrafo Alexandre Severo, homenageado in memorian da 6ª edição do evento. Esta parte das atividades ocorre no Museu do Homem do Nordeste. Confira a programação completa aqui.
O convite da coordenadora do Theória, Ciema Mello, a Adriana e Heudes veio durante a cobertura do seminário Nordestes Emergentes (2013). "Ciema nos chamou para falar sobre a construção da imagem dentro do universo jornalístico. Poderíamos escolher uma reportagem já feita, mas decidimos criar algo intertextual com o tema do Théoria, pegar o nomadismo e fazer uma matéria nova sobre este assunto", explica Adriana.
O resultado foi publicado domingo (2/11), no JC Mais e no JC Online. "Acho que o encontro será interessante para que as pessoas saibam do trabalho envolvido na realização da reportagem, os estudos, as leituras prévias. Fiz pesquisas sobre a pós-modernidade, sobre o nomadismo", cita a jornalista.
"As fotos viraram um container de informações. Quando o trem começou a funcionar, no século XIX, teve grande importância para a indústria. Ele transportava carga e pessoas. Nas viagens elas trocavam informações, opiniões. Quando fomos convidados a princípio eu pensei logo no trem. Comecei a pesquisar sobre o trem, sobre a história da arte e cheguei ao movimento impressionista. Fotografamos as pessoas no ambiente delas, paradas, com o entorno se mexendo, com pinceladas de luz. É uma leitura do impressionismo", continua Heudes.
Em volta dos personagens, o espectador mais atento observará elementos que fazem parte da história dos retratados. "Além disso, queremos falar no encontro sobre como se constroem as imagens na cabeça das pessoas. As imagens que se formam dentro do consciente e do inconsciente de cada um. As imagens estão presentes na nossa vida desde que a gente começa a se entender como ser que ocupa um espaço no mundo e, a partir daí, não para de construir imagens até o fim da vida", completa o fotógrafo.
Os detalhes da imagem também se revelam aos poucos na série Opara, elaborada pelo fotógrafo Ricardo Labastier com os pensamentos sobre a água no Sertão que o acompanham há um tempo. "Não é o papo de que o Sertão vai virar mar. Nada vai virar nada, é tudo uma coisa só. Se você olha as imagens do Sertão visto de cima, aqueles grandes planos se parecem com os grandes planos de água. E tudo isso já foi uma coisa só", afirma ele, que escolheu uma palavra indígena para batizar o trabalho com uma referência ao Rio São Francisco, um rio que liga o Sertão ao litoral.
Labastier estabeleceu outras conexões durante o processo, uma delas com a música. Elementos do Sertão aparecem nas imagens com sutileza, as figuras são como seres míticos. A roupa branca de renda, a fé lembrada com uma imagem de Jesus ou asas como as que são utilizadas pelos anjos de procissão, o chifre que lembra o gado, o vermelho que remete ao sangue, à herança. "Quando recebi o convite para fazer este ensaio, na hora pensei em Osvaldinho da Cuíca tocando Sorriso aberto com Jovelina Pérola Negra. Ele tem uma coisa orgânica, mexe com o instrumento como se eles fossem uma coisa única. Gosto de pensar na imagem não como uma coisa tecnicista, mas com organicidade", explica.
As fotografias de Ricardo, Fernanda e Alexandre são expostas no jardim do Museu do Homem do Nordeste (são 45 obras ao todo). De Alexandre Severo, foi escolhida a série Sertanejos (2009), criada para o especial Os sertões, com textos dos jornalistas Fabiana Moraes e Schneider Carpeggiani. "A ideia do ensaio é trazer à luz os habitantes dessa região, dotados quase sempre de uma aura imutável, presente no imaginário popular e relegados à tradições evanescentes ou extintas. Entretanto, o mesmo sertão guarda espaço para o tradicional (rezadeiras, vaqueiros, beatos e padres) e para o contemporâneo (travestis, motoboys, pirateadores e b-boys). Os retratos se expandem para incorporar o extraquadro, de fundo infinito aparente, repleto de gambiarras, flashes, tripés e sombrinhas. Um cenário que se abria à paisagem externa e suas particularidades. A partir desse momento, o pastor aparece com suas cabras, a rezadeira, ao lado da árvore de que tanto gosta, o líder religioso, ao lado das filhas que destoam da figura mística do pai. A aparente neutralidade das poses transforma-se pelas narrativas contidas no entorno. O estúdio improvisado cria cenários únicos, acrescenta informações visuais importantes na construção de um jogo de aproximação e distanciamento da realidade de cada retratado", explicou Severo.
Fernanda fotografa "figuras centrais do cotidiano de um Brasil em deslocamento e construção de seu novo horizonte". Retratos de nordestinos que trabalham no Rio de Janeiro compõem a série apresentada por ela no Theória. No texto de apresentação do ensaio é dito que: "A Feira de São Cristóvão aparece como um centro comercial e afetivo que agrega aquele que, longe de sua terra natal, busca alimentar a memória para mater a própria identidade".