Cores de Poteiro em exposição na Caixa Cultural

Com 37 obras, esta é a primeira mostra com obras do artista primitivo no Recife
Bruno Albertim
Publicado em 02/10/2017 às 17:44
Com 37 obras, esta é a primeira mostra com obras do artista primitivo no Recife Foto: Divulgação


Uma década antes de morrer, de uma parada cardíada, em 2010, o escultor e ceramista Antônio Poteiro foi também visitado pela sanha de revisão nacionalista ensejada pela comemoração de 500 anos do início da anexação oficial do Brasil à civilização ocidental. Por conta do meio século da “descoberta” do Brasil pelos portugueses, o português radicado goiano colocou sua paleta de cores primárias, puras e vigorosas a serviço de rever alguns dos mitos históricos fundamentais para a história brasileira a partir da colonização lusa. Batizada posteriormente de Brasiliana, a série é um dos eixos de Poteiro - Colorista do Brasil, a primeira exposição no Recife desse que é considerado um dos mais importantes e celebrados artistas primitivos brasileiros.

A exposição acontece, com abertura a partir de hoje, na galeria do segundo andar da Caixa Cultural do Recife, diante do Marco Zero. Na abertura, o também pintor e escritor Américo Poteiro, filho do artista, faz uma visita guiada pelas 37 obras da exposição. “Meu pai era um grande contador de histórias, e quis contar também a história do Brasil. Conheceu inúmeros países, mas dizia sempre que a cor mais bonita do mundo é esse azul do céu do Brasil tão presente em seus quadros”, diz ele.

PRIMITIVO

O acervo exposto pertence ao Instituto Antônio Poteiro, de propriedade da família. Além da série Brasiliana, traz também uma viz crúcis sem o calvário. Em ambas, se confirma porque o termo “primitivo” não traz qualquer demérito, mas, ao contrário, apenas ratifica a potência estética de Poteiro, um gênio tardio que, logo depois de começar a pintura, na maturidade, era não apenas comemorado pelo mercado de arte como celebrado em duas edições da Bienal de São Paulo.

Nessa mostra, Poteiro, claro, é Poteiro: as cores puras, fortes, as formas e elementos distribuídos num grande plano uniforme enormemente narrativo num senso extraordinário de harmonia. Não há qualquer respeito às antigas regras do academicismo, com figuras de traços ludicamente infantis. Painel de quase dois metros quadrados, a tela A chegada (1999 - 2000) traz o azul “poteriano” como base para a chegada de três caravelas repletas de portugueses carregando bandeiras com a cruz cristã e prestes a aportar numa porção de terra de natureza abundante. Ali, vemos também os personagens repetidos como se em grande coeografia cromática tão frequentes da obra de Poteiro.

Da mesma série, um dos quadros tem especial apelo para o público local. Na tela Pernambuco (1,35 x 1,55, 1999-2000), o estado é também visto através de seus mitos históricos e populares. Na base do quadro, batalhões numa referência à expulsão dos holandeses. No plano superior, uma pernambucanidade iconizada é representada através de passistas de frevo armados com sombrinhas e bonecos gigantes do Carnaval de Olinda. Na Via Crúcis, a onipresença de Deus é retratada pela figura constante do criador que a tudo observa. Nas duas séries, temos a temática preferencial do artista: a religiosidade e a cultura populares imaginativamente folclorizadas.

Nascido na cidade portuguesa de Braga em 1925, António Batista de Sousa chegou ao Brasil com um ano de idade. Como artesão produtor de máscaras, bonecos e, sobretudo, potes, ganhou o apelído-identidade de Poteiro. Só começaria a pintar, por incentivo do amigo Siron Franco, em 1976. Antes, nunca tinha feito um desenho sequer.

Poteiro, o Colorista do Brasil -  Caixa Cultural do Recife - Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife. Fone: 3425-1915.

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