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Arte Plural traz exposição de Jairo Arcoverde e Humberto Magno

A mostra 'Vidas Paralelas, Olhares Dissonantes' coloca lado a lado a obra de dois artistas com trajetória parecidas e trabalhos singulares

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 27/08/2019 às 9:10
Fotos: Divulgação e Felipe Ribeiro/JC Imagem
A mostra 'Vidas Paralelas, Olhares Dissonantes' coloca lado a lado a obra de dois artistas com trajetória parecidas e trabalhos singulares - FOTO: Fotos: Divulgação e Felipe Ribeiro/JC Imagem
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Existem algumas coincidências na trajetória dos pintores pernambucanos Humberto Magno e Jairo Arcoverde. Os dois moraram em Olinda em um período fundamental da sua trajetória, compartilham de um pensamento (e de uma contestação) semelhante na reflexão sobre a estética, possuem família e filhos vinculados ao campo da arte. Ainda assim, como é de se esperar de grandes pintores, cada um deles construiu um caminho próprio na sua obra.

A exposição Vidas Paralelas, Olhares Dissonantes, com curadoria de Raul Córdula, coloca lado a lado produções de diferentes fases dos dois artistas. Com vernissage para convidados nesta terça (27), a partir das 19h, na Arte Plural Galeria, a mostra abre para o público em geral na quarta (28).

Mesmo com as obras separadas em ambientes diferentes, é difícil não procurar um paralelismo. A pintura figurativa e lúdica de Jairo é fluida, colorida, mas não esconde uma preocupação com formas e blocos. Os trabalhos de Humberto se dividem em três fases: uma mais figurativa, uma com paisagens e outra com os chamados “quadradinhos coloridos”, que lembram azulejos, mas são compostos com a bela textura da tinta guache. De todo modo, o gosto por formas – quase sempre espontâneas, caóticas – irmana um pouco as criações dos dois.

Raul Córdula define essa conexão através do termo “geometria sensível”. “Vemos isso em Humberto, com essa vontade de organizar a pintura. E, em Jairo, vemos com uma soltura maior, um humor muito grande. Mesmo nos quadros mais abstratos, existe uma memória de uma figura, um olho, uma paisagem”, explica o curador.

As semelhanças biográficas aproximam os artistas, mas Córdula aponta também outro dado: o estado de maturidade da produção. No texto curatorial, escreve: “São mestres no sentido mais zen da palavras, isto é, mestres que nunca se consideraram assim, mestres que não têm discípulos porque ‘mal corresponde ao mestre aquele que não passa de discípulo’”.

UM ALFABETO PRÓPRIO

As telas expostas por Jairo são mais recentes, com diferentes séries do artista. As cores e as formas se alternam entre a quase abstração e a figuração, mas sempre com uma abertura para a graça, tanto no sentido da leveza como de alguma comicidade.
O próprio pintor marca sua obra com a tentativa de criar uma linguagem própria. “Foi a vida toda para chegar a isso. Venho pintando na intenção de criar um alfabeto próprio”, explica Jairo, casado com a ceramista Betty Gatis e pai do pintor Leonardo Arcoverde e da figurinista Joana Gatis.

Com telas em tinta acrílica, o pintor compõe diferentes séries sem título. Uma delas, de 2009, com figuras humanas isoladas, brinca também com as texturas. “O desenho não é mais do que o registro do gesto. E Jairo aprimorou o seu próprio gesto ao longo do tempo nessas composições”, avalia Córdula.

Desde o princípio de sua trajetória, Jairo conta que abandonou técnicas tradicionais, como o claro escuro e a profundidade. “Paul Klee e Kandinsky são os meus mestres. Eu nunca os copiei, mas eles me mostraram um caminho possível, uma anarquia organizada”, afirma.

Se trabalhou em busca de um alfabeto poético, Jairo celebra a maturidade de hoje. “Dizem que os artistas, quando mais sofrem, melhor pintam. Não sei se é verdade, mas eu estou escutando mal, a minha visão piorou, tenho labirintite, tenho um corte imenso da operação de safena. E sinto que a minha pintura tem melhorado com a idade”, brinca.

GUACHES

As pinturas de Humberto, que foi casado com Iza do Amparo e é pai dos artistas Catarina de Jah e Paulinho do Amparo, são mais antigas, divididas em diferentes momentos. São guaches caprichados sobre o papel em que, mesmo quando o desenho existe, ele é atravessado por formas e texturas, parecendo híbridos ou colagens.

Para Córdula, mostrar as obras de Humberto é fundamental por conta de um longo período sem exposições próprias. O artista, nascido em Garanhuns, também vê uma maturidade maior: “Eu tinha muita vergonha de mostrar as coisas que fazia. Hoje eu relaxo, vejo com interesse”.

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