A Seleção Oficial do Festival de Cannes 2017 apresentou vários filmes interessantes durante o fim de semana – como o sueco The Square, de Ruben Ostlund, e 120 Batemments par Second, de Robin Campillo. O primeiro é uma provocação sobre arte contemporânea e caridade; o outro, a reconstrução da luta de um grupo de militantes LGBT para fazer com que o governo francês encarasse seriamente a luta contra a AIDS, na década de 1980.
Mas os dois tiveram que ficar à sombra de Le Redoutable, de Michel Hazanavicius, que voltou à Seleção Oficial com outro filme sobre o cinema, depois do sucesso de O Artista, em 2011. Le Redoutable é a história do período mais caótico de Jean-Luc Godard, o diretor símbolo do cinema francês da década de 1960.
Apesar de Hazanavicius ter uma forte queda para a comédia, ninguém esperava que ele fizesse um retrato cômico de Godard, a partir do seu casamento com a atriz Anne Wiazensky, que tinha 20 anos quando se casou ele, logo depois de realizar o longa-metragem A Chinesa, um dos mais importantes da carreira do diretor (principalmente como obra política).
Com Louis Garrel (Godard) e Stacy Martin (Anne) nos papéis principais, o filme é um modelo de anti-hagiografia. Afinal, é um choque para críticos e adoradores do cineasta, ao trazer muitos dos seus problemas da época, como o fracasso de A Chinesa, os problemas desse casamento disfuncional e a confusão política de maio de 1968, em que Godard foi uma das principais vozes.
Brincando com as frases e o estilo dos filmes do cineasta, Hazanavicius mostra o quanto não conhecemos da vida dos nossos ídolos ao esquecermos que eles são humanos que erram, sofrem e se frustram como qualquer mortal. Além disso, nenhum filme que mostre Godard fazendo sexo oral na mulher pode ser ruim.