'Deadpool 2' chega aos cinemas com frenesi de lutas e piadas

Filme do mercenário tagarela da Marvel retorna após dois anos com pinceladas de drama, mas sem perder a mão da ação e do humor sarcástico típicos
JC Online
Publicado em 16/05/2018 às 11:27
Filme do mercenário tagarela da Marvel retorna após dois anos com pinceladas de drama, mas sem perder a mão da ação e do humor sarcástico típicos Foto: Foto: Divulgação / Fox Film


Historicamente, filmes de fantasia e ficção científica edificaram várias metáforas sobre preconceito. Era uma forma de os cineastas lidarem com temas com os quais não podiam falar tão facilmente. Os X-Men, por exemplo, serviram de alegoria para falar sobre o racismo nos anos 1960. Atualmente, a problemática aparece no gênero de super-herói de forma bem mais aberta. Muito disso se deve a Deadpool, o mercenário irreverente que desde 2016 vem escrachando com a cara de tudo e de todos nas telas do cinemas. E por mais que a primeira aparição do anti-herói tenha se dado nas HQs em 1991, ele era um personagem pouco conhecido pelo público em geral. Chegou a figurar no longa X-Men Origens: Wolverine (2009), mas de maneira tosca e nada fiel à concepção do seu perfil sarcástico e "desbocado".

Hoje, Deadpool (ou Wade Wilson), vivido pelo inigualável Ryan Reynolds, retorna para seu segundo filme solo, muito mais hilário e debochado, mas igualmente pontual e atento às questões sociais e de identidade. Temas como abusos, discriminação e negligência são pincelados ao longo da trama, ainda que irrompam como alívio cômico, como de praxe. Afinal, o risível constitui a essência da produção. Mesmo assim, abordar tais assuntos, é relevante e urgente, sobretudo em tempos que caminham para o obscurantismo político. Quanto a isso, é imprescindível manter uma fórmula até pouco considerada arriscada pelos estúdios cinematográficos que seguiam/seguem piamente as condutas éticas dos padrões ditos comerciais. Não é à toa que o insano filme inaugural contou com um orçamento bem abaixo da média para Hollywood, na faixa dos US$ 58 milhões.

Após o estouro do primeiro Deadpool, que rendeu mais de US$ 780 milhões nas bilheterias mundiais, a continuação chega agora com bem mais recursos, especula-se que com mais do que o dobro. Tal investimento pode ser sentido na amplitude da produção, com participação de outros X-Men, ainda que sejam personagens menos conhecidos. O que torna-se também alvo de piada para o protagonista, claro. Entre eles está Cable, um coroa com o braço do Soldado Invernal, como brinca Wade Wilson. Encarnado por Josh Brolin - o Thanos, de Vingadores: Guerra Infinita -, o personagem, que na verdade é um misterioso soldado vindo do futuro, é, a priori, o antagonista, e um dos pontos altos do longa. Zazie Beetz também rouba a cena como Dominó, heroína que tem na sorte seu mais poderoso aliado. Ambos são membros da formação original do X-Force, grupo de mutantes que foi apresentado na revista em quadrinhos Novos Mutantes #100, publicada em 1991. Reunião que dá a entender que o grupo será desenvolvido em um próximo longa, mas os rumos da Fox comprada pela Disney deixam certa incógnita no ar.

O considerável aumento no orçamento fica ainda mais explícito quando se leva em conta o número de cenas de ação mais ousadas e explosivas. O que se deve atribuir também ao fato de que o diretor, David Leitch (Atômica) é também um ator dublê, produtor e coordenador em ação, luta e acrobacias. As imagens são mais sanguinolentas do que as apresentadas no longa antecessor, com membros e espadas voando para tudo quanto é lado, a la Kill Bill, mas não chegam a ser de fato pesadas porque, novamente, a comédia fica sempre acima de todo e qualquer pano de fundo. A parte dramática da produção, que se dá sobretudo nos takes de romance entre Wade e sua namorada, Vanessa (a carioca Morena Baccarin), também fica em segundo plano, por mais que o filme tente revelar a faceta sofredora do protagonista. Nessas cenas, o ponto positivo vai para a trilha sonora, clássicos dos anos 1980 de grupos como A-ha e Air Supply que dão uma singular atmosfera de "brega romântico".

Em outra escala, o drama se dá na relação entre Wade e Russell Collins/Punho de Fogo (Julian Dennison), um transgressor garoto mutante de 14 anos. Ele é o elo da história. É o que conecta Deadpool a Cable e aos outros X-Men, como os secundários porém notórios Colossus (Stefan Kapicic) e Míssil Adolescente Megassônico (Brianna Hildebrand). As principais referências a abusos e maus tratos, inclusive, estão contidas no arco de Russell, vítima de um diretor fanático e de um grupo de enfermeiros do Lar Essex de Reabilitação para Mutantes. Integram também o elenco de heróis Bill Skarsgard como Axel Cluney/Zeitgeist, Lewis Tan como Benjamin Russell/Shatterstar e Terry Crews como Jesse Aaronson/Tumulto, garantindo diversos dos momentos de risada coletiva em suas atuações.

EXPECTATIVAS E SURPRESAS

Em suma, Deadpool 2 cumpre sua promessa muito bem, a de entreter. Mas não quer dizer que fica imune ao cansaço das piadas de metalinguagem que se sucedem ao longo de duas horas. Nesse sentido, pode se arrastar um pouco, mais para o espectador que não consegue acompanhar as inúmeras referências aos universos Marvel/DC e à cultura pop/nerd como um todo. Falta, talvez, aquela expectativa gerada pelo filme estreante, que poderia ter sido um fracasso completo, mas não foi. Os excessos, por sua vez, caracterizam a produção, que em meio a isso ainda consegue a proeza de instigar reflexões. O elemento surpresa fica por conta da cena pós-créditos, pela qual vale a pena esperar e compensa qualquer descompasso de roteiro. A fotografia, trabalhada nos tons de azul e amarelo, dá o toque especial, apontando os contrastes, o drama e a ação, o fim e a renovação de ciclos do mercenário.

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