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Crítica: 'Creed II' ressignifica episódio emblemático de Rocky Balboa

Estreando nesta quinta-feira, 'Creed II' continua a narrar a saga do jovem Adonis Creed, agora revisitando dolorosas lutas do passado

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 24/01/2019 às 13:36
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Estreando nesta quinta-feira, 'Creed II' continua a narrar a saga do jovem Adonis Creed, agora revisitando dolorosas lutas do passado - FOTO: Foto: Divulgação
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Contando com este Creed II, que chega aos cinemas hoje, as narrativas dentro universo do emblemático pugilista Rocky Balboa (Sylvester Stallone) somam oito filmes ao longo de 43 anos, com dezenas de lutas, nos ringues e fora deles. Trazer um novo oponente cada vez mais desafiador é uma tarefa complicada, mas a franquia vem dando conta, excluindo um certo Rocky V (1985). Passando o protagonismo ao jovem Adonis Creed (Michael B. Jordan), filho do maior amigo e ex-rival de Balboa, os novos rumos funcionam muito bem ao dar novos significados aos elementos da própria mitologia do boxeador emblemático.

Agora, a fonte da franquia para esta sequência é Rocky IV (1985), com seus eventos traumáticos durante a Guerra Fria. O quarto filme traz como oponente o soviético Ivan Drago (Dolph Lundgren), treinado pela URSS para ser uma máquina de combate e propaganda dentro do ringue. Em seu primeiro confronto, Drago enfrenta Apolo Creed e o mata durante a luta, obrigando Balboa a vingar o amigo em plena Moscou, sendo bem sucedido na missão.

Novo mundo, novas lutas

Mais de 30 anos depois, o filho de Apolo é o atual campeão mundial dos pesos pesados, sendo treinado pelo próprio Balboa, enquanto Ivan Drago leva sua vida na Ucrânia com o filho, Viktor, desde que foi exilado da antiga União Soviética, após a derrota em Moscou.  Amargando tudo isso, Drago treina a prole para reconquistar suas glórias e a chance surge com uma ida ao Estados Unidos para desafiar Adonis Creed pelo título mundial, ganhando apoio da mídia ao publicizar a possível luta como uma revanche do confronto que matou o Creed pai. O desafio é aceito, mas Rocky se mostra hesitante.

Partindo dessa premissa bem sólida, o texto de Creed II ganha força ao dar novas camadas e quebrar o maniqueísmo da obra anterior. A conversão de Ivan Drago de um robótico lutador a um humano tão quebrado é a primeira delas. A Guerra Fria pode ter acabado, mas as cicatrizes de um momento que não aceitava falhas é passada para outras gerações, motivando também os Dragos pai e filho. Assim, Lundgren consegue evocar os apáticos olhares do passado, mas agora com doses claras de mágoa.

Já pelo lado de Creed, as coisas são mais confusas, embora justificadas. O roteiro de Stallone e Juel Taylor não cai na solução da vingança pura e simples. A escolha de tentar entender as motivações de Creed ao aceitar o desafio é um caminho bastante eficiente.

Dentro desse contexto, Rocky assume de vez o manto de mentor experiente, consolidado já em sua primeira aparição, com sua voz ecoando metáforas no vestiário antes de seu rosto aparecer. Entretanto, sua sabedoria passa longe da prepotência, fica claro que ela foi construída em cima das dores da perda. A morte de Apolo Creed aguçando o sentimento de culpa.

Mesmo com essa força, Creed II se mostra visualmente engessado e pouco criativo. A direção de Steven Caple Jr. até tenta construir alguns simbolismos, mas que não mostram muita profundidade, mesmo que filmados no fundo de uma piscina. Ele registra as lutas de forma morna.

A exceção é a luta final, quando Caple utiliza a mixagem de som para dar peso aos golpes e constrói uma tensão ainda não vista. Tudo ganha outra dimensão ao se observar os subtextos que a luta carrega, seja o peso de um projeto rejeitado de nação, do qual Viktor é fruto, ou a tentativa de descobrir o porquê de lutar, representado por Creed.

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