SÃO PAULO – Numa chuvosa manhã de quarta-feira, após um certo atraso, o jovem ator capixaba Chay Suede, de 26 anos, chega de maneira apressada a um hotel cinco estrelas da Zona Oeste da capital paulista. O clima ainda não era de “festa de arromba”, mas representantes da imprensa de todo o Brasil estavam reunidos para conversar com a direção e parte do elenco do filme Minha Fama de Mau, a cinebiografia do cantor Erasmo Carlos, na qual ele é protagonista. A estreia será na próxima quinta-feira (14) nos cinemas de todo o País.
Leia Também
- Aos 77 anos, Erasmo Carlos se casa com a pedagoga Fernanda Passos, de 28
- Erasmo Carlos mais reflexivo e menos roqueiro em novo álbum
- Minha Fama de Mau, filme sobre Erasmo Carlos, está sendo finalizado
- Wanderléa afirma que Jovem Guarda foi a revolução da alegria
- Jovem Guarda, a revolução que foi televisionada
O Jornal do Commercio teve a chance de conversar primeiro com o artista que encarnou nas telonas um dos personagens mais significativos da Jovem Guarda, um movimento que fez história na música popular brasileira, além de ser um símbolo vivo do rock nacional. E logo na primeira pergunta, sobre como chegou o convite para interpretar Erasmo no longa, Chay Suede pediu licença para contar uma história.
“Foi muito interessante. Eu sempre fui muito fã do Erasmo, muito por conta do meu pai. Nós viajávamos pelo Brasil trabalhando juntos, montando eventos em shoppings, e ouvia muito Erasmo Carlos no caminho, e vários discos dele já faziam parte da minha vida. Um dia eu fui a um evento de lançamento de carros em que o Erasmo ia cantar junto com outros artistas. Ele ia fechar a noite. Fiquei muito animado com a possibilidade de me encontrar com ele, conversar com ele e, de repente, tirar uma foto, se fosse o caso. Mas fiquei um pouco com vergonha”, entrega o jovem ator, que segue com o seu relato.
“Eu sou tímido, principalmente para me aproximar de um artista que eu admiro, mas o meu empresário na época conversou comigo e me convenceu. Fomos ao camarim, conversamos um pouquinho, demos um abraço, e tiramos uma foto. Quando voltamos pra casa, comecei a olhar a foto e, praticamente juntos, começamos a pensar que não havia um filme sobre o Erasmo e que era possível fazer já que tinha uma biografia sobre ele. Fomos dormir. No dia seguinte, logo cedo, recebo um e-mail da nossa empresa com um convite para fazer um teste para o filme Minha Fama de Mau, que a gente não fazia ideia que estava sendo produzido. A produtora do filme não havia visto a foto, que foi tirada tarde da noite, não sabia do nosso encontro, nem que a gente teve essa ideia. Então esse filme entrou na minha vida de uma maneira especial”, concluiu o intérprete do Tremendão.
O longa dirigido por Lui Farias e estrelado por Chay vai convidar o público a conhecer o bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, dos anos 1960. É lá que o jovem Erasmo Carlos alimenta uma paixão: o rock and roll. Fã de Elvis, Bill Haley e Chuck Berry, ele aprende a tocar violão enquanto vive de sonhos, bicos e pequenas delinquências. A fama de roqueiro atrai Roberto Carlos (Gabriel Leone) e logo se tornam parceiros e amigos. E um megassucesso chega com a Jovem Guarda, o programa de TV onde Roberto, Erasmo e Wanderléa (Malu Rodrigues) são a atração principal.
É claro que a trajetória de Erasmo sem falar de Roberto é quase impossível. E coube ao carioca Gabriel Leone, de 25 anos, dar vida ao grande amigo e parceiro musical. Para ele, interpretar figuras tão icônicas do imaginário brasileiro teve sua demanda de trabalho e dedicação.
“O principal que a gente pensou desde o início era de fugir, o máximo possível, de uma caricatura, uma imitação. Primeiro porque eu não tenho talento de imitador (risos). E segundo que o filme toma uma opção de contar um trecho da vida do Erasmo que existe pouco registro e, de certa forma, acredito que tenha pouco na memória das pessoas. Quando você fala do Roberto e Erasmo vem, naturalmente, a imagem deles hoje imediatamente. Então tomamos esse caminho de, logicamente, estudar muito os personagens e cair muito em cima deles. A partir daí veio os trejeitos e as características. Mas, de certa forma, construímos os nossos personagens. Então é o meu Roberto, é o Chay do Erasmo, a Wanderléa da Malu para, justamente, não cair nessa armadilha de imitar ou ‘caricaturar’”, contou Gabriel, que ainda não tinha visto o filme pronto quando conversou com o JC. Afinal, o longa foi filmado antes mesmo dele fazer a novela Velho Chico, da TV Globo, que estreou em março de 2016.
Completando o trio de ouro da Jovem Guarda, a carioca Malu Rodrigues, de 25 anos, deu vida a Wanderléa. Com bastante experiência no teatro musical, a atriz debuta no sentido de cantar nas telonas. “Para mim é uma honra estar participando. Acho que é um dos primeiros filmes dessa época que é um musical mesmo, já que a maioria dessas biografias são dubladas. Acho que quando a gente canta de verdade traz mais verdade para a história. Para mim, que faço musicais, estou amando! As músicas são maravilhosas. É claro que tem os trejeitos do Erasmo, Roberto, Wanderléa, não está perdido isso, mas é a Malu cantando como Wanderléa. Isso para mim foi muito novo”, destaca a artista.
Ter Chay Suede, Gabriel Leone e Malu Rodrigues cantando as canções do filme foi uma preocupação do diretor Lui Farias, que também assina a produção, o roteiro e a redação final do filme, que foi inspirado na biografia homônima, publicada em 2008 pelo próprio Tremendão.
“Eu buscava atores que cantavam. E precisava ser rock and roll! Precisava ter essa malícia. A Malu tem uma carreira gigante no (teatro) musical. Eu já a conhecia e já tínhamos tentado trabalhar juntos uma vez. Malu era a minha carta na manga. Eu falei para ela que ela tinha sido escalada desde muito antes do filme, nunca teve uma outra. O encontro com o Chay foi o mais difícil, mas quando aconteceu, ele chegou com ideias, soluções. Aí embarcamos nisso, e precisávamos encontrar alguém para fazer o Roberto Carlos. E eu tive um longo caminho até que um dia o Gabriel chegou. Quando ele entrou pela porta, era ele! Por um momento, achei que eles (Chay e Gabriel) tivessem combinado, mas eles nem se conheciam. Na primeira cena, Chay entrou, já fez a segunda voz com ele e me surpreendeu. A coisa parecia muito bem ensaiada”, relembrou Lui, que é filho de Maurício Farias, responsável por dirigir os longas de Roberto Carlos no cinema, e convivia diretamente com o cantor homenageado nesta obra.
AFINIDADES
Para Chay Suede, a vida de Erasmo Carlos se assemelha em partes com a sua. “Erasmo quando adolescente era um entusiasta da música, do rock. Eu sempre fui muito entusiasta das coisas novas que estavam acontecendo contemporâneas à minha juventude. Ele começou também por um viés jovem, eu também. Minha primeira aparição na TV foi no (reality show) Ídolos (2010), e nessa época, tinha um público muito jovem. Em seguida, a primeira novela que eu fiz foi Rebelde (2011), na Record, que também atingiu um público extremamente jovem, quase equivalente ao público que a Jovem Guarda atingia na época. Teve coisas que eu vim descobrir depois, muita coisa que o Lui me dizia sobre ele também, que é um fato dele ser um cara caseiro, família, de gostar de ficar com os filhos dele – eu ainda não tenho filhos, mas eu estou louco para ter – isso a gente tem em comum também”, enumerou o ator.
Uma das sequências que vai chamar a atenção do público no filme é o momento em que Roberto Carlos apresenta a Erasmo a canção Amigo. “Essa cena foi gravada ao vivo. Então eu tô cantando e tocando realmente ali. E eu não tocava piano! Aprendi a tocar a música para fazer essa cena. Além de ser algo novo que eu tinha aprendido, tinha toda a carga emocional da história real dessa música, que é uma canção que Roberto compôs para o Erasmo. Junto a isso, eu e o Chay tivemos um processo muito bacana, uma amizade muito linda que construímos ao longo do filme e, se eu não me engano, essa foi uma das últimas cenas que filmamos. Então já tinha uma cara de encerramento, de fechamento daquele ciclo de filmagens”, relembrou Gabriel Leone.
Com participações especiais de Bianca Comparato, Isabela Garcia, Bruno de Lucca e Paula Toller, junto a um repertório de sucessos da Jovem Guarda, Minha Fama de Mau promete trazer um clima de nostalgia mas, sobretudo, dar luz a um artista icônico que escreveu seu nome na história da música brasileira.
“O Erasmo fala uma coisa muito legal sempre que é o amor. E essa palavra ficou marcada no filme. Acho que o longa quer transmitir isso: a amizade, o amor, a família. O Erasmo é tudo isso e tá tudo ali”, afirma Lui Farias. Malu Rodrigues completou o diretor: “Juntando tudo isso vira um filme alto astral. É um filme leve, você sai com um gostinho bom do cinema”.
Ao encerrar as entrevistas, o clima de “festa de arromba” ao qual o filme promete envolver o público a partir da próxima quinta-feira parecia, finalmente, estar presente. Deu até para esquecer a chuva torrencial que São Paulo sofria sem cessar naquele dia. Na verdade, talvez tenha sido São Pedro demonstrando que também sabia ter “uma fama de mau”.
*O repórter viajou a convite da Downtown Filmes.