Cine PE

'Frei Damião – O Santo do Nordeste' abre o Cine PE

Documentário de Deby Brennand conta os 98 anos de vida do Frei através de relatos, ficção e imagens de arquivo. Sua primeira exibição acontece nesta segunda (29), no Cinema São Luiz

João Rêgo
João Rêgo
Publicado em 29/07/2019 às 15:12
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Documentário de Deby Brennand conta os 98 anos de vida do Frei através de relatos, ficção e imagens de arquivo. Sua primeira exibição acontece nesta segunda (29), no Cinema São Luiz - FOTO: Divulgação
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Há três anos, a cineasta pernambucana Deby Brennand aceitou o desafio de transformar em filme a vida do mitológico capuchinho Frei Damião. Hoje concluído, o longa terá sua primeira exibição na abertura da 23ª edição do Cine PE, nesta segunda (29), no Cinema São Luiz, às 20h.

Frei Damião – O Santo do Nordeste é, sobretudo, a história de um homem. Já nas últimas fases do seu processo de beatificação no Vaticano, o capuchinho adentrou a crença popular como a figura de um santo. Deby, no entanto, faz um movimento oposto. O documentário investiga as raízes da mitificação de Damião, acompanhando sua história desde a infância na Itália, até sua vinda ao Nordeste. “Eu não tinha muito conhecimento sobre Frei Damião, apesar de conhecer algumas histórias. Sou católica, mas não assídua. Então eu busquei não só o relato, eu queria entender também o que faz um homem virar um santo. A história do filme vai mais para esse lado pessoal, o homem Frei Damião” explica a cineasta.

Para condensar a histórica trajetória do capuchinho em 90 minutos, Deby usou todo potencial da linguagem cinematográfica. Em alguns momentos, a obra recorre a encenação, ficcionalizando partes da vida de Damião que os registros visuais não alcançaram. Em outros, a parte mais documental aflora em relatos de fiéis que cruzaram ou têm histórias sobre o Frei. “O filme tem três linhas. Existe uma de ficção, a do docudrama e o lado documental mesmo” pontua.

“Frei Damião chegou aqui com 33 anos, tínhamos que recuperar a parte dele na Itália, então buscamos o caminho da ficção. A história quem conta são os personagens reais, não existe narrador. E paralelo a esse documental, vamos contando uma historia ficcional. Dentro do doc existe um docudrama, fora existe uma ficção” completou.

Além dessa abordagem, o longa ainda é composto por imagens de arquivos inéditas captadas pelos cineastas Otacílio Cartaxo e Machado Bitencourt, da década de 60, e filmagens gravadas em fitas VHS durante os anos 70 até 90, que foram guardadas no Convento de São Félix, no Recife. Algumas, conta Deby, filmadas pela dupla de Damião, o Frei Fernando. “Na religião católica, na ordem dos franciscanos, os capuchinhos costumam andar sempre em dupla. E quem comprou uma câmera e filmava Frei Damião o tempo inteiro foi Frei Fernando, que era um apaixonado por cinema”.

Toda essa junção de materiais, e até criação de novos, buscou dar conta dos 98 anos de uma das figuras mais icônicas do Nordeste – região à qual dedicou 66 anos da sua vida. Estima-se que Frei Damião seja o autor de mais de 30 mil milagres no tempo em que percorreu estados como Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Bahia e Ceará nas Santas Missões. Boa parte desses locais, por exemplo, serviram para gravação de cenas e busca de relatos para o longa. Segundo Deby, nesses processos a parte mais difícil era filtrar as histórias contadas, “todo mundo tinha um milagre envolvendo Frei Damião”.

Foi neste sentido que a cineasta encarou o filme também como uma descoberta particular. “Eu queria entender certas coisas; principalmente o processo por trás de toda mitificação, tanto que no documentário eu não falo sobre a beatificação atual”. Até por isso, o filme assume uma abordagem mais didática, mas nem por isso menos inspiradora e apaixonada pelo que documenta.

“A gente foi até a Itália e conheceu a família dele. Descobriu que ele foi formado na Universidade Gregoriana de Roma – uma das mais importantes na época –, e foi abandonando tudo isso para se dedicar a religião. Ele vai ao longo se desprendendo de tudo, desapegando do que era material, como Jesus e até o próprio São Francisco de Assis, para vim viver aqui fazendo missões. Foi daí também que foi surgindo toda sua mitificação. Era inacreditável como aquele homem pequeno, franzino, ficava sentado 24h escutando confissões sem pausas” conta a diretora.

ESTREIA

Considerado hors concours pela curadoria do Cine PE, Frei Damião – O Santo do Nordeste terá sua primeira sessão no Recife. A exibição também marca o retorno de Deby ao festival – onde, em 2016, foi a grande premiada com o doc Danado de Bom. Depois disso, o longa será distribuído pela Elo Company, sem ainda uma previsão para entrar em cartaz.

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