Thriller

Crítica: 'Carcereiros' expõe vísceras do sistema prisional brasileiro

Com uma narrativa que não abre espaço para um suspiro, o filme dá continuidade a série da Rede Globo nas telas do cinema

João Rêgo
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João Rêgo
Publicado em 29/11/2019 às 15:20
Fotos: Ramón Vasconcelos/Globo
Com uma narrativa que não abre espaço para um suspiro, o filme dá continuidade a série da Rede Globo nas telas do cinema - FOTO: Fotos: Ramón Vasconcelos/Globo
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Uma certa tendência de delegar inclinações políticas a filmes talvez enclausure algumas obras recentes em opiniões fechadas. Uma produção que envolve o sistema carcerário brasileiro, partindo de uma série da Globo e estrelada por Rodrigo Lombardi, à primeira vista, pode soar como uma confirmação à regra.

Nos seus primeiros minutos, com narrações em off divagando sobre como “o sistema é foda”, Carcereiros, filme que estreia hoje nos cinemas do Recife, parece fazer de tudo para isso. O que se vê daí para frente, no entanto, é algo totalmente diferente.

Filme de gênero com um toque autoral do diretor José Eduardo Belmonte, a trama evita dualismos políticos desde a sua inspiração primária: o livro de mesmo título de Dráuzio Varela.

“Em nenhum momento houve intenção de passar qualquer mensagem. A mensagem que o filme carrega por si só é que o sistema penitenciário está falido, superlotado, e quem trabalha ali dentro é tão vítima como as pessoas que estão presas esperando julgamentos que nunca acontecem, vivendo em praticamente uma escola do crime”, explica o roteirista do longa, Marcelo Starobinas.

A partir dos nomes envolvidos já se pode ter uma ideia do que transcorre em tela. Suspense, ação e suco de Brasil; a tensão construída é posicionada toda em cima da uma realidade propriamente nacional. São as facções, a precarização do sistema penitenciário, os políticos corruptos e toda a iconografia da violência exposta.

O gênero cinematográfico (a ação, principalmente) assume, quase autoconscientemente, toda brecha que o discurso político possa querer se entrever. Não há espaço para elaborações complexas dentro de uma narrativa que não abre espaço para um suspiro. A violência, as ações ineficazes de Adriano (Rodrigo Lombardi) diante dos fatos, e os corpos que vão se empilhando só atestam uma coisa: tudo está em processo de falência.

DESTAQUE

O que se pode ressaltar diante de tudo isso é o cinema brasileiro. Mais um bom filme “de gênero” que chega ao circuito neste ano. E sempre acompanhado de atuações primorosas, com destaque, para além de Lombardi, a Rainer Cadete que vive seu primeiro “bandidão” nas telas.

Príncipe, seu personagem, é um mar de complexidades. Entre a vida e a morte na prisão, o bandido assume uma posição diferente do que é costumeiramente exposto. “Foi muito de um processo intuitivo. Eu fui nas minhas origens. Sou da periferia de Brasília, e muitos amigos meus se envolveram com o tráfico, e eu, graças ao teatro e a arte consegui ser outro caminho. E partir daí posso iluminar esse lado mais social que o filme traz”, conta o ator.

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