As imagens retratadas nos telões são do “sertão das Gerais” - como a própria convidada diz - e da catedral metropolitana de Brasília, duas regiões emblemáticas para ela. Na plateia, estudantes de direito, representantes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e demais convidados aguardam a chegada da mulher de andar delicado, corpo miúdo e fala cantada, à moda mineira. Grandes, porém, são as responsabilidades e esperanças que recaem sobre o trabalho de Carmén Lúcia, atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), primeira entrevistada do Conversa com Bial, atração que estreia nesta terça-feira (2), no fim de noite da TV Globo.
“Não sei dizer o que é maior neste momento: a honra ou a alegria em recebê-la”, diz Pedro Bial ao sentar-se diante da ministra. “Não precisa escolher, é uma honra e uma alegria”, responde ela, dando sinais de que a conversa será uma troca. Dada ao cuidado e ao apreço pelas palavras, Carmén Lúcia traz do sertão do norte de Minas Gerais - “Eu ainda sou o sertão”, diz - o sotaque, a lembrança de tantos “causos” e o conhecimento profundo da história de Riobaldo, do clássico Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.
Carmén conta para Bial algumas histórias de si mesma, como as curiosas vezes em que tem de andar de táxi. “Os taxistas são maravilhosos, ora me criticam, ora concordam comigo. Alguns não me reconhecem, outros tentam explicar o que eu deveria fazer. Um deles, ouvindo uma notícia no rádio, dizia que ‘esses ministros não entendem nada, não sabem de nada!’.
Carmén disse que, apesar de seus 40 quilos, seus ombros “comportam a esperança do tamanho do mundo” e, por mais que não saiba no que tudo – corrupções e processos da Lava Jato – vai dar, ela sabe o que deseja. “Não sabemos quando nem onde tudo isso vai parar, mas eu espero que seja num país melhor. O povo não quer mais isso (corrupção)”, afirma.
De sua experiência de vida, ela traz consigo marcas que refletem em seu trabalho, como quando votou contra a censura das biografias, em 2015. “Eu vivi em um colégio de freiras dos 11 aos 17 anos. Não fui feliz naquela época e eu não tenho vocação para ser infeliz. Fui estudante de Direito na década de 1970. Então, sei que ninguém pode viver sem liberdade. Quem soube a força da mordaça, sabe o gosto de falar”, conclui.
Outras conversas ainda se estabelecem no programa. Para isso, o apresentador convida a atriz Fernanda Torres, que entrevistou Carmén Lúcia no programa Minha Estupidez, do canal fechado GNT. Conversa com Bial estreia logo após o Jornal da Globo.