Desde o início de agosto, quando foi anunciado que a turnê XuChá - O Chá da Xuxa, desembarcaria no Recife, muitos se
perguntaram se a loura de 54 anos ainda tinha fôlego para encher uma casa grande como o Classic Hall, em Olinda.
Parece que o jejum de 13 anos sem pisar em Pernambuco deu certo e aproximadamente 8 mil pessoas atenderam ao chamado
da eterna Rainha dos Baixinhos na noite deste sábado (7). Mesmo com casa cheia, e não lotada, a dificuldade de andar,
principalmente na frontstage, surpreendeu positivamente aos fãs mais ardorosos.
Quebrando o protocolo, Xuxa desceu de sua nave espacial com menos de 1 hora de antecedência. Programada para começar à
meia-noite, a Rainha abriu os trabalhos às 23h15. Ela foi apresentada pelo criador da festa Chá da Alice, o pernambucano Pablo Falcão, e a atriz conterrânea Fabiana Karla. "Essa festa é de Pernambuco", disse Pablo ao público após contar a sua trajetória de amor com a loura. "Não veio a Andreia Sorvetão, mas veio a Paquita Bolo de Rolo", brincou Fabiana, vestida como uma das eternas assistentes da apresentadora.
A queda da cortina branca que revela o maior símbolo do programa Xou da Xuxa e de onde a apresentadora chega provocou gritos ensurdecedores em toda a casa de show, até se tornar o coral uníssono da música Amiguinha Xuxa. Ao cumprimentar o público de Recife, Xuxa garantiu: "Desculpa os outros lugares por onde passei, mas aqui tá incrível mesmo", arrancando mais gritos dos altinhos pernambucanos e coros de "Xuxa, eu te amo".
Mas tanta euforia também gerou puxadas de orelha da apresentadora, que pediu pelo menos duas vezes entre uma música e outra para as pessoas não se machucarem. A aflição de Xuxa se dava principalmente pelas primeiras filas do frontstage, onde pessoas estavam se espremendo e se apertando para tentar curtir o XuChá ao máximo. Em contrapartida, a alegria do público e a pirotecnia na música O Xou da Xuxa Começou no primeiro bloco foi um dos registros de maior alegria no espetáculo. As Paquidrags de Recife também fizeram uma ponta de luxo na festa ao performarem duas canções das Paquitas.
Seguindo o script da festa à risca, com várias trocas de roupa e perucas, o repertório não teve surpresas. Ao dublar as canções originais dos anos 1980 e 1990, um dos momentos mais emocionantes ficou mesmo quando o público cantou a capella o Abecedário da Xuxa (ainda que esse momento também seja roteirizado). A 'Tia Xuxa', como ela fazia questão de se referir, ainda levantou um coral da primeira estrofe de Cinco Patinhos, o maior sucesso do projeto Xuxa Só Para Baixinhos.
Entre uma convesa e outra, Xuxa brincou sobre o título de Rainha dos Baixinhos. "Algumas pessoas dizem que eu tô velha
para ser a Rainha dos Baixinhos, mas tem a Rainha Elizabeth lá, velha pra caramba, e ninguém reclama", disse ela,
arrancando risos e aplausos no Classic Hall. E assim ela seguiu resgatando clássicos como Tindolelê, Hoje é Dia de Folia, Planeta Xuxa, Libera Geral, Tô de Bem Com a Vida, Marquei um X e Pinel por Você.
No último bloco, o destaque fica por conta da aura de protesto que ganha a música Arco-Íris. Ao exibir nos grandes telões de led do cenário números atuais da violência contra crianças, mulheres, negros e homossexuais no Brasil durante a introdução, a canção ganha uma importante ressignificação e uma bonita lição de tolerância, que já é uma marca da Xuxa desde sempre. E após a animada Ilariê - que arrancou cantorias até dos seguranças do evento - o público parecia não acreditar quando se ouviu os primeiros acordes de Lua de Cristal, a derradeira música do XuChá.
Eram 0h35, ao som da versão apoteótica de Doce Mel, quando a loura subiu na Nave Xuxa para se despedir da Terra, aos
choros e gritos dos fãs mais apaixonados, sem volta para um bis. Para o público em geral, ficou muito o gostinho de quero mais, de tão rápido e intenso que o espetáculo é. Mas uma coisa é certa: ninguém ali parecia arrependido de ter voltado aos tempos de criança junto com ela.