Dez letras, quatro sílabas e 45 anos de história na televisão brasileira. Assim é o Fantástico, da TV Globo, que estreou exatamente no dia 5 de agosto de 1973. A revista eletrônica tinha em sua gênese uma pretensão: unir jornalismo e entretenimento para levar ao telespectador os assuntos relevantes no Brasil e no mundo. Não à toa, seu subtítulo, usado até hoje, exemplificava isso: o Show da Vida.
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Ainda em preto e branco, às 20h45, a primeira edição entrou no ar na emissora carioca com duas horas de duração. A apresentação estava à cargo de Sérgio Chapelin e direção de Jorge Loredo.
O Fantástico foi idealizado pelo então diretor de criações do canal José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. No Livro do Boni (Casa da Palavra, 2011), o próprio relembra com carinho o nascimento do projeto: “Eu não queria apenas um programa de reportagens com números musicais entremeados e sim uma coisa que reunisse tudo o que a televisão fazia, com notícias, reportagens, música, humor, circo, dramaturgia e curiosidades. Enfim, um mosaico com todas as peças costuradas entre si para formar uma unidade. Anotei isso em um memorando e chamei o projeto de O show da vida”.
Ao reunir todos os setores da Globo para elaborar o programa, segundo Boni, o músico carioca Ronaldo Bôscoli, que estava sentado ao fundo, exclamou: “Isso é fantástico!”. O “braço direito” do Boni, Mauro Borja Lopes, conhecido como Borjalo, arrematou: “Fantástico. Esse é o nome do programa”. Mas Boni defendeu mais o título inicial. Bôscoli, então, uniu as duas ideias: Fantástico – O Show da Vida, título que permaneceu na logomarca do programa até 1979.
E assim o público ouviu pela primeira vez os famosos versos “Olhe bem, preste atenção...” que marcava a abertura repleta de artistas em um picadeiro, sob uma coreografia de Juan Carlos Berardi. A música tem melodia de Guto Graça Mello e letra do próprio Boni.
Desde então, o Fantástico tenta todas as noites de domingo informar de maneira diferente. Nos primeiros anos, o programa foi palco onde grandes nomes da MPB faziam números e videoclipes especiais. No esporte, também já cativava o público com uma “zebrinha” durante os gols da rodada e lia o resultado da loteria esportiva. No humor, Chico Anysio tinha espaço cativo para seus personagens, onde permaneceu por 16 anos.
As aberturas do Fantástico sempre foram emblemáticas, mas foi em 1987 que o designer Hans Donner inseriu a força dos elementos da natureza (ar, fogo, água e terra) na vinheta inicial, algo que permanece sendo mencionado até os dias atuais.
Além das notícias, exibição de documentários, grandes coberturas e reportagens especiais, alguns quadros do programa se tornaram bastante populares. De 1984 a 1989, por exemplo, foi ao ar A Garota do Fantástico. Todo domingo, duas jovens desfilavam em paisagens paradisíacas com trajes de passeio e de banho. A locução divulgava algumas informações pessoais enquanto a audiência votava na favorita, que se classificava para a próxima etapa. No final, a eleita ganhava o título. Várias das participantes – todas desconhecidas na época – se tornariam famosas para o grande público anos depois. Entre elas: Cláudia Lyra, Paula Burlamaqui, Luciana Vendramini e Adriana Garambone.
Nas últimas décadas, teve grande repercussão os quadros Me Leva Brasil, comandado pelo repórter Maurício Kubrusly, mostrando curiosidades pelo País; Retrato Falado, de Denise Fraga, que dramatizava história de telespectadores; e A Fantástica Volta ao Mundo, onde o repórter Zeca Camargo viajou pelo planeta com destinos decididos pelo público.
No comando da atração já passaram nomes como Carlos Nascimento, Celso Freitas, Cid Moreira, Fátima Bernardes, Galvão Bueno, Glória Maria, Patrícia Poeta, Pedro Bial, Renata Ceribelli, Renata Vasconcellos, Sandra Annenberg, William Bonner e Zeca Camargo. Hoje, Poliana Abritta e Tadeu Schmidt estão à frente do dominical.
DESAFIOS
Mesmo com toda a grandiosidade e o trabalho de levar um programa como esse ao ar, o Fantástico já passou por diversas crises, inclusive de audiência. O jornalista Adriano Silva, que foi chefe de redação do jornalístico por exatos 400 dias em meados de 2006, transformou sua experiência no livro Treze Meses Dentro da TV (Editora Rocco, 2017) e mencionou a pressão: “A audiência do Fantástico era um zumbido constante em nossos ouvidos. De um lado, havia uma questão com a própria TV aberta – o número de televisores ligados no domingo à noite diminuíra. As pessoas estavam fazendo outras coisas. [...] Estavam cada vez menos dispostas a ficar duas horas e meia sentadas no sofá da sala assistindo a um programa de televisão. Entre aquelas que efetivamente ficavam diante da TV, boa parte não estava na TV aberta”.
A repórter especial Sonia Bridi comentou ao portal Memória Globo sobre o desafio de fazer o dominical: “O Fantástico gosta de inovar. Ele é atrevido nas pautas. Ele é atrevido no formato. Nem sempre tudo dá certo, mas quando dá certo, dá muito certo”.
A revista eletrônica que chega neste domingo (5) aos 45 anos – estreando nova abertura e duas séries inéditas – segue unindo jornalismo e entretenimento como em seus primórdios, mas mantendo uma tradição com olho na modernidade. “O público procura o Fantástico à espera do inédito, do exclusivo, de uma análise mais profunda da semana, de coberturas de intensa repercussão. Sempre haverá interesse por histórias, é intrinsecamente humano, e nisso o Fantástico é especialista. Olhando para frente, o Show da Vida continuará sendo de vanguarda, um farol da TV brasileira”, conclui o atual diretor Bruno Bernardes.