A terceira edição da Feira Nordestina do Livro, Fenelivro, se encerrou na noite de ontem com um número de público maior que o esperado pela organização do evento. Cerca de 63 mil pessoas passaram pelo pavilhão do Centro do Convenções entre quarta e domingo, somando negócios na ordem de R$ 1,6 milhão.
Apesar do sucesso de público, os livros, em diversos momentos, pareciam estar lutando para conseguir a atenção dos jovens. Se não no empate, estavam quase perdendo para os espaços de jogos eletrônicos e brinquedos infantis. Adolescentes se agrupavam para garantir sua vaga na próxima rodada do Just Dance, enquanto pais e filhos faziam filas para que os pequenos pudessem se divertir um pouco no pequeno parque de pula-pula e tobogã.
O presidente da Associação do Nordeste das Distribuidoras e Editoras de Livros, Andelivros - que organizou a feira junto à Cepe -, José Aventino de Lima, avaliou que esta edição foi um sucesso tanto de público quanto de vendas.David Amorim, vendedor do estande do Varejão do Estudante, também analisou esta edição como sendo mais bem sucedida que a de 2016. “Em termos de vendas, foi com certeza melhor. Tivemos um procura alta pelos clássicos, mas ainda assim os livros que mais foram vendidos foram os dos youtubers”, explica. “Mas muitos de nossos clientes reclamaram da falta de diversidade e do tamanho da feira de uma maneira geral”, finalizou.
A opinião entre o público, entretanto, ficou dividida. Maria Elizângela, pedagoga de 34 anos, esteve presente na Fenelivro ontem com sua filha e sogra. “Compramos vários livros e contramos o que queríamos, mas acho que a feira falta ainda, tem que crescer mais em diversidade.” O empresário Eduardo Marques, de 38 anos, se disse, satisfeito com os estandes e ressaltou as promoções nos da Cepe e Varejão do Estuante. “É a primeira vez que venho, mas com certeza voltarei no próximo ano. Gostei muito das palestras também”, disse.
O encerramento da feira ficou por conta do escritor luso-angolano Gonçalo M. Tavares. Em sua palestra, que reuniu cerca de 25 pessoas, ele falou sobre realidade, imaginação e ficção, gerando questionamentos e reflexões sobre a temática a partir de exemplos de diversas expressões artísticas. Por incrível que pareça, a literatura não esteve na pauta, mas sim as artes plásticas, música, cinema e performance.
A própria fala de Gonçalo iniciou-se com uma provocação um pouco performática: ele pediu ao público para que imaginasse, no lugar da garrafa de água que segurava, a imagem do Cristo Redentor. Os artistas performáticos Francis Alys, John Baldessoni e Marina Abramovic, o cineasta Andrei Tarkovski foram rememorados pelo escritor para mostrar que “a arte não é só filmar ou escrever sobre um grande acontecimento, mas sim retratar algo banal de forma extraordinária”, como falou.
Em sua fala sobre como as formas de arte podem se apropriar de algo totalmente imaginado para falar de problemas reais, ele ainda teceu uma crítica às universidades. “Elas têm se tornado cada vez mais utilitárias e perdendo o espírito utópico que a arte, por exemplo, proporciona.”