Da boemia dos anos 1970 formou-se um movimento literário de poetas independentes, muitos deles conhecidos também como poetas marginais. A movimentação se deu em todo o Brasil e, no Recife, esse grupo de escritores que encontraram no fazer poético uma forma de libertação e resistência foi muito significativo. É justamente a respeito da poesia marginal que Fernando Monteiro debate hoje, em mais um encontro de seu Palavração – O Ano das Lágrimas na Chuva, às 15h30, na Biblioteca Pública do Estado. O convidado desta quarta edição do projeto é o poeta pernambucano Valmir Jordão.
"Esta é uma faceta muito característica da poesia recifense, que envolve as questões urbanas”, explica o escritor Fernando Monteiro. Falar de poesia marginal é, para ele, quase uma redundância, haja vista que o próprio gênero literário ainda se encontra à margem da cena cultural. Foi este mesmo motivo que o levou a colocar o Palavração adiante: trazer para o cerne do debate a poesia em sua totalidade e discutir como ela se encontra no cenário contemporâneo brasileiro.
"Quando surgiu, a poesia independente foi muito importante do ponto de vista social, por conta da situação política em que o Brasil se encontrava. Os poetas faziam um trabalho fora do mainstream, de forma artesanal e livre, sem medo. E esses atributos ainda permanecem", ressalta.
Para Valmir, que integra o grupo de autores do movimento independente poético da capital pernambucana junto a nomes como Erickson Luna, Chico Espinhara, Jorge Lopes, Cida Pedrosa e Heloísa Bandeira, ainda falta apoio por parte do poder público e fomento. “Existem vários grupos de saraus, tanto na periferia como nos bairros mais centrais, tem muita gente boa fazendo poesia. O cenário tá muito interessante, o problema é a falta de apoio”, desabafa. “Muitos equipamentos culturais estão abandonados, basta olhar para o Bairro do Recife.”
Após a conversa, Fernando Monteiro vai lançar a nova edição de seu livro Mattinata. Originalmente lançada em 2012, a obra reúne três longos poemas: o primeiro, que dá título ao livro, Escritos no Túmulo e, por último, E Para Que Ser Poeta em Tempos de Penúria?, questionamento que provocou, inclusive, a vontade do autor em criar o projeto O Ano das Lágrimas na Chuva.
A novidade desta edição é que ela foi realizada em uma parceria das editoras Nephelibata Edições (SC) e Edições Sol Negro (RN) como forma de homenagem ao pernambucano. O evento será transmitido ao vivo na página do Facebook da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco.