Além de ter publicado 14 livros e deixado dez inéditos, Marcus Accioly, que faleceu na manhã deste sábado (21/10) contribuía para o Jornal do Commercio com artigos de opinião quinzenalmente publicados às quintas-feiras. Uma das principais vozes da chamada Geração 65, vEle era imortal da Academia Pernambucana de Letras e fez campanha também para a Academia Brasileira de Letras.
Publicano na última quinta-feira (19/10), leia o último artigo do poeta publicado no JC:
Dirceu Rabelo se engana e confunde seus leitores, ao se dizer – por modéstia – que é um “poeta bissexto”. Ora, não há poeta, pintor, escultor, músico, bissextos. O epíteto, cunhado por Manuel Bandeira – Antologia dos poetas brasileiros bissextos – recebe o aviso do poeta de que ele não se encontra nos dicionários: “Bissexto é aquele em cuja vida o poema acontece como o dia 29 de fevereiro do ano civil”. Portanto, é uma maneira de se dizer que alguém escreve pouco, que é escasso, ou que que não é poeta. Por isso, lembra a boutade de Marx Twain, sobre uma paciente que vai ser operada: “Doutor, estou morrendo de medo, pois, vou me operar pela primeira vez”. Ao que o médico responde: “Fique tranquila, que também é a primeira vez que eu vou operar”. Caso que não acontece com Dirceu Rabelo – nem como feito, nem como fazedor – pois, antes de tudo, ele é poeta.
Diziam os antigos: “O poeta nasce e o orador faz-se”. Logo, o poeta é e a arte faz-se. Dirceu é um poeta e um artista, discípulo da Arte poética de Boileau: “Recomeçai a vossa obra vinte vezes”. Conhecedor da sua poesia e seu colega da Academia Pernambucana de Letras, recebo de Dirceu seu livro inédito: Poesia incompleta. Incompleta, porque ele sabe que nenhum poeta verdadeiro nomearia sua obra de – Poesia completa (exceto se já tivesse morrido). Dirceu continua escrevendo poesia e agora é que escreve! E escreve de suspensórios que, no seu caso, é um jeito de se segurar em si mesmo pelos ombros – com a contenção de João Cabral de Melo Neto – ou – à Carlos Drummond de Andrade: Os ombros suportam o mundo. Aliás, ele próprio diz que, de suspensórios, por conta da labirintite, sente-se equilibrado. Sim, mas do labirinto do mundo e do poeta. Conforme a canção do beatle Paul MacCartey – Hey Jude: “O movimento que você precisa / está nos seus ombros”. Os ombros de Dirceu sopesam os – Metais: “Na trajetória transportei nos ombros / a fazenda que herdei: cargas de chumbo”.
Na Pós-Modernidade de John Barth, Dirceu Rabelo não perde nem despreza nenhum dos três tempos. Ao contrário, avança neles e com eles: “Consagração da vida, fim da morte, / luz triunfal de estrela e eternidade”.