Poucas pessoas têm a dimensão do trabalho do diplomata brasileiro Sergio Vieira de Mello, morto, junto com outras 21 vítimas, em 2003 em um atentado à sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Bagdá, no Iraque. Durante sua vida, Sérgio percorreu locais de conflito, trabalhou incansavelmente com refugiados, negociou condições dignas e foi incumbido até de ajudar a fundar um estado. A história dele – e dos que cruzaram seu caminho, como companheiros de luta ou como vítimas das opressões – é contada pelo jornalista Wagner Sarmento no livro Sergio Viera de Mello, O Legado de um Herói Brasileiro, que será lançado nesta segunda-feira (27), às 19h, no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) do Derby.
Junto com o livro, o evento vai trazer também a exibição de um documentário com o mesmo nome, em fase final de conclusão, dirigido por André Zavarize, coordenador geral do projeto. Além disso, a Fundaj vai receber uma exposição com 20 fotografias do próprio Wagner, tiradas durante a pesquisa para o livro em vários países.
Sergio foi um dos mais importantes diplomatas brasileiros. Antes de falecer, no que Wagner chama de “11 de Setembro da ONU”, ele era apontado como um nome natural para ocupar em breve o posto de secretário-geral da ONU. As suas responsabilidades dimensionam a sua relevância também. Quando o órgão internacional assumiu, pela primeira vez na sua história, todos os poderes de um país (a segurança, o executivo, o legislativo e o judiciário), foi o diplomata o encarregado de coordenar todo o processo. Assim, teve a dura missão de, em apenas três anos, tentar erguer todo um estado dentro do Timor Leste devastado por uma dura ocupação da Indonésia.
Como Wagner descreve no livro, ele “recebeu um país que ainda não era uma nação”. “Longe disso. Que não tinha energia elétrica, água encanada, polícia, Exército, sistema jurídico, Constituição. Que estava mergulhado em convulsões sociais, provocadas sobretudo por milícias armadas que, sob o patrocínio oculto de Jacarta, exigiam a volta da submissão à Indonésia. Que padecia de fome, sede, doenças, insegurança. Que carecia de hospitais e médicos, escolas e professores”, aponta. Na visita ao país, o autor encontrou um Timor Leste ainda com muito problemas na economia e na infraestrutura, mas com vitórias também: é uma democracia em uma região dominada por “regimes totalitários ou pouco transparentes” e também conseguiu reduzir drasticamente os índices de violência.
Para compor sua pesquisa, Wagner, que já escreveu também a biografia Popó – Com as Próprias Mãos, percorreu com André 70 mil quilômetros, com mais de 100 entrevistas realizadas, inclusive com o secretário-geral da ONU, António Guterres, e dois Nobel da Paz: o bispo Carlos Filipe Ximenes Belo e o jurista José Ramos-Horta. Além de mostrar a trajetória de Sergio, o livro e o documentário buscam também mostrar o seu legado e o drama atual de refugiados, como no caso da Venezuela.