Nas suas próprias palavras, o jurista e educador Joaquim Falcão encontrou-se, nesta sexta (23), definitivamente, com a eternidade da Academia Brasileira de Letras (ABL). Eleito em abril deste ano para a cadeira número 3 da instituição, o novo acadêmico vestiu pela primeira vez o famoso fardão na cerimônia de posse no Salão Nobre do Petit Trianon. Em seu discurso, apresentou uma defesa dos direitos e da liberdade de expressão no estado democrático de direito.
Nascido no Rio de Janeiro, mas tido como um “pernambucano honorário”, Joaquim Falcão destacou que, mais do que uma “celebração individual”, ingressar na ABL era fazer parte de um conjunto de rituais, que vão da candidatura à posse, e que dão a dimensão do patrimônio histórico e cultural que é a instituição. Na cerimônia, autoridades e nomes da área jurídica e política marcaram presença, como o governador de Pernambuco Paulo Câmara e o seu vice, Raul Henry, o governador do Maranhã Flávio Dino, o senador Jarbas Vasconcelos, os ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre Moraes, Carlos Ayres Britto, Ellen Gracie e Luís Roberto Barroso, o empresário Ricardo Brennand, o advogado José Paulo Cavalcanti e o futuro ministro da Justiça Sérgio Moro, entre outros.
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Com a homenagem aos seus antecessores na cadeira de número 3 – dando ênfase especial ao economista Roberto Simonsen e ao jornalista Carlos Heitor Cony –, Joaquim fez do seu discurso uma defesa dos valores que regem o estado democrático de direito. “A constituição deve ser um comando ara ampliar, e não restringir, o Brasil”, vaticinou.
Em diversos momentos, tanto no seu discurso como na fala de Rosiska Darcy de Oliveira, acadêmica que fez o discurso de recepção, Olinda e a cultura pernambucana foram citadas. Joaquim morou na cidade e chegou a trabalhar com Gilberto Freyre na Fundação Joaquim Nabuco. Citou, ao falar da importância das heranças culturais, os Patrimônios Vivos de Pernambuco, como Lia de Itamaracá, o Homem da Meia-Noite e o Maracatu Leão Coroado. “A cultura brasileira não é eliminatória, é somatória”, afirmou.
Joaquim, que também trabalhou na modernização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), lamentou o incêndio no Museu Nacional. “Todo país tem o seu Museu Nacional. Nós, não mais. Temos cinzas”, lamentou. “Nosso futuro não pode ser um museu queimado e esquecido.” Ainda elogiou a operação Lava Jato no combate ao patrimonialismo, mas também criticou a ideia de cercear a liberdade de ensino e de expressão, ainda que sem citar diretamente projetos como o da Escola sem Partido. “A mensagem do patrulhamento é a da educação como egoísmo”, afirmou. Defendendo o estado democrático de direito “como patrimônio político”, ele terminou a sua fala com uma homenagem a sua família e a sua esposa.
ROSISKA
Após assinar o livro de posse e receber o colar, a espada e o diploma da ABL, o novo imortal da instituição ouviu o discurso de Rosiska. Além de falar do convívio com o amigo e de sua casa, onde nunca faltam variedades de tapiocas, ressaltou a trajetória do jurista. “Joaquim tem o dom de fazer o sentido da sua vida jogando no caleidoscópio do seu destino seus múltiplos talentos, atividades, criações, pertencimentos, afetos, andanças, como se toda essa diversidade pudesse se entender entre si, harmoniosamente, como se pertencesse a uma mesma matriz”, apontou. Após o encerramento oficial da sessão, Joaquim recebeu os cumprimentos dos demais acadêmicos e dos convidados presentes.