Slam BR 2018

Aos 15 anos, Bione representa Pernambuco no Slam BR 2018

Competição nacional tem início nesta quarta (12)

Erika Muniz
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Erika Muniz
Publicado em 10/12/2018 às 9:29
Foto: Leo Motta / JC Imagem
Competição nacional tem início nesta quarta (12) - FOTO: Foto: Leo Motta / JC Imagem
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“O que eu vivo eu escrevo e o que eu escrevo eu recito”. Eis uma das frases que a jovem poeta Bione nos diz sobre onde vai buscar seus versos. Bione, aliás, é como Júlia escolheu ser chamada. Dizer que sua poesia está à frente deste tempo não é exagero. Ao contrário, seus versos demonstram a sabedoria de quem sente na pele a necessidade de refletir sobre a história e a formação deste país para, assim, construir um futuro melhor e mais justo. Aos 15 anos, a estudante revela profunda consciência estética e, sobretudo, política. Resultado disso é que embarca, nesta terça (11), para São Paulo como representante de Pernambuco na quinta edição do Slam BR, o Campeonato Nacional de Poesia Falada. A competição acontece entre os dias 12 e 16 de dezembro, no CineSesc e Sesc Pinheiros.

Atualmente, Pernambuco vem sediando três slams, título para as batalhas de poetry slam (poesia falada, em livre tradução) e são eles o Slam PE, o Slam Caruaru e o Slam das Minas PE, neste último só participam mulheres. Como vencedora do Slam das Minas, Bione concorreu e venceu o campeonato estadual, que aconteceu na Rua da Aurora. Quem vence, participa da disputa nacional. Ano passado, a pernambucana Bell Puã foi a vencedora do nacional e, posteriormente, concorreu o mundial em Paris. Bione diz encontrar nela e na MC Lilo, integrante do 8.0.8 Crew, algumas de suas influências, que são muitas, sobretudo no rap nacional. “Ver três poetas almejando uma vaga no nacional foi muito bom. Eu fui para mostrar o que eu tinha, o que sempre fiz: escrever”, diz a jovem em entrevista ao Jornal do Commercio.

Demonstrando constante vontade pela escrita e por levantá-la na voz, a artista confessa perceber os aplausos, as entrevistas e os convites como resultado de algo que ela faz  a fim de emocionar. “É muito bom participar de tudo isso. Quero mostrar o que eu tenho, se eu ganhar é uma consequência. Sempre fui por essa linha de raciocínio. Isso tem dado certo para mim. Quero sorrisos e que as pessoas me compreendam, que meu povo me compreenda. Se eu ganhei o Slam, foi por consequência da minha vivência, do meu trabalho, do meu esforço porque escrever é um esforço”, confessa Júlia, que complementa: “Às vezes as pessoas pensam que porque a gente recita e faz uma brincadeira, a gente não sofreu para escrever. O que eu coloco no papel, eu vivencio. Escrevo só o que eu vivo. Se eu escrevo sobre o racismo, o machismo, e todas essas questões, significa que eu estou vivenciando. É um certo desabafo. Estou muito feliz por estar representando meu estado, assim com Bell Puã no ano passado”, afirma. Um dos sonhos de Bione é tornar-se MC. Essa vontade está bem próxima, pois com a parceria da Aqualtune Produções, coletivo formado por mulheres negras e periféricas ligadas à música e arte, tem encontrado estímulo e colaboração na divulgação de seu trabalho.

Desde o anúncio da vitória, seus dias têm sido intensos. Se apresentou no Som da Rural no domingo passado, no Pátio de São Pedro, deixando o público bastante envolvido e empolgado. Além disso, tem escrito mais constantemente. Atenta como é, escuta o que a cidade fala para ela em suas andanças. Um de seus poemas, por exemplo, conta que surgiu por acaso, após escutar alguém falar e criou uma rima quase imediatamente.

Criação

“O que me dá um start é quando eu consigo criar uma frase de efeito, por exemplo, ‘Preta, favelada/vou calando a boca de quem quer me ver calada’. O resto surge na minha cabeça. Eu ouvi alguma coisa no ônibus. Essa poesia, Preta, Favelada é uma das únicas que tem um mote. Essa eu fiz no ano passado e recitei na final do Slam, ano passado. Eu penso ‘Tamos protagonizando’ e aí vem ‘E agonizando’. Não tem muito segredo não”, conta entre risos.

 

 

Filha de Janaína Melo e irmã Juliana Wittória, Bione mora com a família no bairro do Prado. Em conversa com o JC, Janaína conta que procura colaborar com o veio artístico de sua filha e diz estar orgulhosa da participação no Slam BR. Mas também diz que no início foi difícil, devido à preocupação diante do caráter politizado que os poemas declamados por Bione estabelecem. “Ela foi me mostrando que era sério e o quanto o que ela faz é importante”, disse a articuladora de políticas públicas.

Não é a primeira vez que ela vai a São Paulo competir, pois em maio deste ano, participou junto à poeta Patrícia Naia da competição em duplas. “A gente ficou em quarto lugar no nacional, mas foi muito legal. Esta é a primeira vez que eu vou para recitar sozinha, só como Bione”, relata.

Sobre o que vem preparando para este próximo evento, ela conta que tem produzido constantemente. “Para as batalhas , tenho algumas selecionadas, mas não quero apenas levar inéditos. Tem gente daqui que me conhece e recita junto comigo quando começo. Quero que o povo pernambucano se sinta comigo. É tudo minha raiz”, afirma.

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