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Joselia Aguiar revela muitas facetas de Jorge Amado em biografia

O livro 'Jorge Amado: Uma Biografia' é lançado nesta quinta (10), na Livraria Jaqueira

Diogo Guedes
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Publicado em 10/01/2019 às 8:29
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O livro 'Jorge Amado: Uma Biografia' é lançado nesta quinta (10), na Livraria Jaqueira - FOTO: Divulgação
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“Escrevo porque, mal ou bem, é tudo o que sei fazer”, dizia Jorge Amado, quando perguntado sobre a sua escrita. Entre os grandes escritores brasileiros do século 20, ele é singular. Foi um raro caso por aqui de escritor profissional, imensamente popular com a sua escrita, dentro no Brasil e fora dele – a ponto de ser, durante a Guerra Fria, best-seller tanto nos Estados Unidos como na União Soviética. Mais do que politizado, foi um militante atuante do comunismo, chegando a ser deputado. Viveu em diversos cantos do mundo, mergulhou no candomblé, mantinha uma inacreditável lista de amizades e ajudou a forjar (e também confundiu-se) com a própria imagem que o Brasil e o mundo faziam do nosso país.

Até pelo caráter grandioso da vida do autor, existia uma lacuna por uma biografia mais extensa sua, que abarcasse os vários aspectos da sua trajetória. No final do ano passado, a jornalista baiana Joselia Aguiar, ex-curadora da Flip, lançou o volume Jorge Amado: Uma Biografia (Todavia), com mais de 600 páginas. Na quinta (10), a partir das 17h30, ela faz o lançamento da obra no Recife, na Livraria Jaqueira, com bate-papo e sessão de autógrafos.

Para Joselia, um dos motivos para a lacuna de biografias mais ambiciosas, como esta de Jorge Amado, é o grande investimento, de tempo e dinheiro, necessário para realizá-las. A jornalista passou sete anos pesquisando em livros, documentos e cartas. “Jorge Amado é também um personagem complexo: viveu muito, produziu muito, sua obra circulou em 49 idiomas, residiu em lugares diferentes, passou por reviravoltas literárias e políticas, e se tornou a certa altura alvo das mais variadas discussões, até porque tinha escolhido tratar delas. Então, para deixar as coisas ainda mais difíceis, não é um biografado simples”, comenta, em entrevista ao JC.

SÍNTESE

Sintetizar a vida do autor para uma biografia não foi fácil. “Enquanto escrevia, também calculava o tempo inteiro o espaço de cada uma de suas facetas. Não podia contar todas as maravilhosas histórias com amigos porque precisava falar também da recepção da obra; e tive de avaliar o tempo inteiro se estava dando atenção em igual medida ao que era  mais íntimo e pessoal e ao que era de sua dimensão pública”, conta. Além disso, optou por trazer a vida de Jorge em ordem cronológica: separá-la em temáticas ou eventos tornaria difícil o entendimento de como o escritor se construiu ao longo do tempo.  “Colocá-lo numa história literária e política era muito importante, dado o impacto do que produziu e dado o fato de que dialogava com o que ocorria no país e no mundo”, indica.

Um dos assuntos dos livro é a relação com a política, que não foi um tema menor na sua vida. “Há muitos relatos, de Jorge e gente próxima, sobre o quanto tinha dificuldade de se concentrar na obra enquanto se desdobrava em tantas atividades, sobretudo na época de campanha eleitoral, de deputado e, depois, como quadro do comunismo internacional no Movimento pela Paz”, explica Joselia, lembrando que havia decisões polêmicas em meio a isso, como o apoio dos comunistas a ACM em uma das eleições na Bahia. “Quando está já afastado do partido, sua trajetória e obra podem ser compreendidas também a partir disso, o impacto daquele desencanto, que no entanto não o fez sair do campo progressista”, continua a biógrafa.  

Costuma-se falar que o desencanto com o partido o levou a se interessar pelo candomblé e pela cultura popular baiana, mas Joselia destaca que o fascínio era anterior. “Ocorre que depois ele conseguiu retomar esse universo e se dedicar a ele de modo mais livre e intenso. Via o candomblé como resistência cultural e política, um contraponto ao eurocentrismo, ao catolicismo, aos valores burgueses. É pena, mas houve quem pensasse isso tudo como ‘exotismo’, o que não deixa de ser um preconceito”, analisa. Na vida de Jorge, ela, que mora há dez anos fora da Bahia, encontrou muito do seu estado. “Houve um momento em que fiquei nostálgica, quando pesquisava justamente a época de juventude de meu pai e minha mãe, anos 1950-60. Tinham vindo do interior baiano para Salvador, então me sentia de algum modo refazendo o caminho deles na cidade também”, aponta. 

O que fica mais claro, no entanto, ao longo de Jorge Amado: Uma Biografia é que a popularidade do autor não é um acaso, mas um projeto. O pacto da sua literatura, ressalta Joselia, sempre foi mais com o leitorado do que com círculos intelectuais. “Nos EUA, ele é levado pelo Knopf na mesma época em que o Knopf publica Gilberto Freyre, por exemplo. A biografia do Prestes em certo momento o faz conquistar leitores na América Latina. Depois há o momento de expansão nos países da Cortina de Ferro. Mas são outros os livros que interessam. Sobretudo, é importante dizer que há elementos narrativos que o fazem ‘ganhar’ leitores. Não são livros que excluem por excesso de intelectualismo ou densidade, há mesmo um pacto interno de sedução do leitor”, conclui a biógrafa.

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