O cenário de editoras e autores independentes de Pernambuco tem se fortalecido há alguns anos. Trata-se de algo maior do que uma mera efervescência genérica, aliás, nos últimos tempos, vários escritores têm colhido resultados tanto dentro de formatos oficiais, com presença em prêmios literários e festivais estabelecidos, como fora deles, criando catálogos consistentes, obras cuidadosas (artesanais ou não) e seus próprios eventos e espaços. Um dos bons sintomas disso é a Mostra de Publicações Independentes (Mopi), que chega agora a sua terceira edição.
A programação, idealizada por cinco editoras e vários autores, ocorre em quatro cidades de Pernambuco a partir de deste sábado (2). As atividades, sempre aos sábados e quintas, continuam até o dia 23 de fevereiro, também divididas em espaços diversos, como a Livraria & Sebo do Pátio, o espaço Ceça e o Ramon Bar y Parrilla (Recife), a Casa Balea e o Sebo Casa Azul (Olinda), o Ateliê Valcira Santiago (Goiana) e a Tabacaria do Mago (Belo Jardim). As atividades são abertas, com contribuição livre do público, exceto a oficina Poesia e Ancestralidade na Autoria Feminina e o espetáculo Clamor Negro, ambos pelo valor de R$ 20.
Um dos responsáveis pela programação, o poeta Fred Caju, da Castanha Mecânica, conta que o caráter experimental da escrita dos vários autores reverbera de diversas formas, chegando até o tratamento mais criativo com o livro enquanto suporte. “Estamos fazendo experimentações também na produção dos eventos. Na primeira edição centralizamos as atividades na Ceça, na segunda experimentamos dias consecutivos no Sebo Casa Azul. E agora estamos descentralizando os locais de realização da Mopi. São espaços que já demonstraram sensibilidade à literatura e às edições independentes”, aponta o escritor.
Leia Também
“Philippe Wollney e David Biriguy são dois nomes que movimentam muito o território onde estão. Goiana e Belo J|ardim, respectivamente. É uma forma de integração e alinhamentos de forças em comum, já que estamos sob uma égide de conservadorismo institucionalizada”, continua Fred. Cada espaço terá a sua própria curadoria de obras à venda.
Para o editor, desde a realização do Festival Publique-se, em 2015, houve uma qualificação da cena independente. “O capricho gráfico e os cuidados com a edição do texto foram muito impulsionados pelo festival. Agora já estamos em um novo passo, ainda difícil de definir seu contorno para dizer o que é”, avalia.
Fred ainda ressalta que a ideia do evento nunca foi se formalizar como coletivo ou ter unidade de discurso: “A gente trabalha de uma forma muito transparente e focada na geração de novas esferas autônomas de poder. Esteticamente nossos livros não escondem seus segredos de edição. Há uma mensagem muito incisiva de redistribuição de forças. A cada edição, mais editoras compõem a Mopi. Tem acontecido de dividirmos a compra de alguns materiais ou empréstimos de ferramentas, por exemplo”.
Uma das atividades da Mopi vai ser um novo lançamento da coletânea No Entanto, Dissonâncias, que se posiciona contra o fascismo. “Se fala muito que a produção independente é uma forma de resistência. Mas eu particularmente tenho abandonado essa ideia. Nossa existência não é subalterna. Existiremos diante de quaisquer poderes estabelecidos”, afirma o poeta. “Estamos onde estamos porque fizemos escolhas. Não é o tamanho da nossa tiragem nem nossas ferramentas que nos limita. Escolher o próprio raio de alcance e escolher autores combativos a ideias totalitárias tem sido nosso caminho. Queremos gerar dispersões e multiplicidades.”
Confira a programação completa da terceira edição da Mopi:
Sábado, 2
16h - Leituras no Pátio: sabatina com Philippe Wollney
Local: Livraria & Sebo do Pátio, Recife
16h - Instalação do acervo da Mopi
19h - Lançamento da antologia No Entanto: Dissonâncias: conversas com David Biriguy e Fred Caju
Local: Tabacaria do Mago, Belo Jardim
Quinta-feira, 7
19h - Disputas e distorções narrativas: conversas com Adilson Silva Didil, Inaldete Pinheiro, João Gomes e Mariana de Matos
21h - Uma loa para Moa: leituras e récitas com Cris Alquimia, Joy Thamires e Odailta Alves
Local: Ceça, Recife
Sábado, 9
16h - Instalação do acervo da Mopi
19h - Alceamento, furos e dobras: a Mopi e os novos espaços de leitura conversas com Fred Caju, Raoni Assis e Rodrigo Acioli
Local: Casa Balea, Olinda
Quinta-feira, 14
19h - Interregno: O deboche e o riso como conduta, conversas com Coletivo Lugar Comum, Flávia Gomes, Fred Caju e Renata Santana
21h - Performance do Coletivo Lugar Comum
Local: Ramon Bar, Recife
Sábado, 16
16h - Leituras no Pátio: sabatina com Ezter Liu
Local: Livraria & Sebo do Pátio, Recife
20h - Instalação do acervo da Mopi
20h30 - Palavrares: conversas e recitas com Ademauro Coutinho, Enoo Miranda, Lucas Holanda, Lucas Torres, Philippe Wollney, Sandro Gonzaga e Valfrido Santiago
21h30 - Performance Chã de Fogo com Enoo Miranda, Philippe Wollney e Ruan Freitas
Local: Atelier Valcira Santiago, Goiana
Quinta-feira, 21
19h - Poesia ao vivo: modos de expandir conversas e performances com Caio Lima, Carlos Gomes, Jonatas Onofre, Nathalia Queiroz e Philippe Wollney
Local: Ramon Bar, Recife
Sábado, 23
14h - Oficina de Poesia e Ancestralidade na Autoria Feminina com Odailta Alves
19h - Literaturas e políticas feministas: conversas com Ane Montarroyos, Jacilene Silva, Katarine Araújo, Maria Samara e Thays Albuquerque
21h - Espetáculo Clamor Negro com Odailta Alves e Suh Amorim
Local: Sebo Casa Azul, Olinda