Os escritores Fred Caju e Philippe Wollney mantêm as suas próprias editoras artesanais, respectivamente, a Castanha Mecânica e a Porta Aberta. A poeta Bell Puã se destacou recentemente no Brasil e ganhou o mundo ao vencer a competição nacional de Slam (poesia recitada), sendo escolhida para representar o País lá fora. Outros nomes, como Ezter Liu e Enoo Miranda, fazem parte da lista (que inclui Fred) dos últimos vencedores do Prêmio Pernambuco de Literatura. Todos fazem partem da programação da primeira edição da Mostra de Publicações Independentes (Mopi), que tem início quinta (12), no Espaço Ceça (Av. Manoel Borba, 339), no bairro da Boa Vista. A entrada é livre, mas com sugestão de colaboração no formato pague quanto puder.
Os nomes citados são apenas alguns de um cenário literário ativo, que vem fazendo recitais, lançamentos e debates de forma descentralizada e autônoma não só no Recife e em Olinda, mas também na Zona da Mata. Além das duas editoras citadas, o evento ainda vai reunir a Bendito Ofício, Cartonera do Mar, Cérbero Editora, Inteligência Sensível, Livrinho de Papel Finíssimo e Titivillus Editora.
Fred Caju, um dos idealizadores da mostra, conta que a Mopi começou por conta de um adiamento de um lançamento da sua editora, que seria no Espaço Ceça. Veio daí o projeto de juntar editoras para uma exposição dos livros da Castanha Mecânica. “Então vi que não era o único que poderia contribuir com o movimento. Eu já estava em contato com algumas editoras e selos alternativos por conta da ocupação da Praça da Palavra do FIG. Aprovamos o estande e já estávamos nos articulando. A abertura da Ceça para a linguagem de literatura foi fundamental pra que a mostra fosse acontecendo”, conta o poeta, autor de Nada Consta.
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Para ele, existem alguns pontos em comum entre todas as editoras: tanto a ideia de questionar o já estabelecido como o cuidado com os livros. Fred destaca essa “postura discursiva de afronte ao status quo nas publicações” e “os elementos estéticos performáticos dos livros para expandir e desdobrar a narrativa”. Sem eles, seria difícil imaginar uma unidade entre autores, dicções e projetos tão distintos.
O cenário pernambucano dessa agitação literária é também parte de um contexto nacional. “A produção gráfica está em crescente em todo país, apesar das inúmeras dificuldades em circulação e sabotagens institucionais de uma atmosfera de um governo ilegítimo. Em Pernambuco não está diferente. No últimos três anos, temos vários exemplos dessa efervescência”, conta, citando o Festival Publique-se!, a Liga Cartonera e a Liga de Editoras Independentes e Alternativas (Leia), entre outros sinais.
A produção independente e artesanal ainda é essencial porque, ressalta Fred, “o livro é um objeto em crise constante”. “Acabamos de perder uma livraria na cidade, por exemplo. Tudo nos seus entornos sofre sucateamentos. Ações independentes tendem a ser mais ousadas que as institucionais, porque afetam diretamente quem está na produção, sem passar por gabinetes e canetadas”, afirma. Assim, quando pensou a programação da Mopi, se focou no que dificilmente se discutiria em festivais tradicionais, como uma mesa sobre a literatura e relações de poder no trabalho rural.
A defesa de uma literatura viva, que questiona, circula, provoca e não pede licença é fundamental para a sua concepção do que é a Mopi. “A produção independente reivindica protagonismos de grupos socialmente marginalizados. Cria outras esferas de poder e amplia vozes fora do circuito normativo. Não são apenas os livros nossas armas. Por isso queríamos que a mostra transcendesse uma exposição e tivesse pessoas e ideias presentes, por isso as rodas de conversas, oficinas e intervenções, por isso as atividades de fruição e formação, por isso a programação infantil, por isso a seriedade e a descontração: para humanizarmos o acesso à leitura”, conclui o escritor.
Programação
Quinta (12 de julho)
19h - Literatura e relações de poder no trabalho rural com Enoo Miranda, Philippe Wollney, Sandro Gonzaga e Wilemberg Gonçalves
20h - Performance Chã de fogo com Enno Miranda e Philippe Wollney
20h30 - Leituras com Ademauro Coutinho, Enoo Miranda, Philippe Wollney, Sandro Gonzaga e Wilemberg Gonçalves.
21h - Microfone aberto
Sábado (14 de julho)
14h - Oficina Agulhas, dobras e cavalos com Fred Caju
19h - Lançamento do livro 'É que dei o perdido na razão' de Bell Puã e da 'Antologia Marielle, presente!' com João Gomes
20h - Recital Marielle, presente! com Amanda Timóteo, Bell Puã, Bione, Lilo Araújo, Mariana Ramos e Patrícia Naia
Quinta (19 de Julho)
19h - A urbe urge: literaturas e adjacências com Clivson David, Linda Nogueira e Tacio Russo
20h30 - Lançamento do livro 'Quando as pétalas caem' de Tacio Russo e da revista A geometria da cidade
21h - Intervenção Chão de asfalto, peito de sangue com Amanda Timóteo, André Medulla, Felipe Santana e Tacio Russo
Quinta (2 de Agosto)
19h - Interregno: publicações artísticas com Bruna Rafaella Ferrer, Camilo Maia e Rodrigo Acioli
20h30 - Lançamento do livro Levedação de Jedder Janotti Junior
21h - Intervenção Estamos definitivamente na vida com Jonatas Onofre, Lucas Holanda e Teresa Coelho
Sábado (4 de Agosto)
14h - Oficina de cartonaria para crianças com Cleane Maria da Silva e Giselle Natália (Cartonera Do Mar)
16h - Clássicos infantis em cordel com Susana Morais e Diego Gibran
19h - Workshop Escavações editoriais com Philippe Wollney e Rodrigo Acioli
Quinta (9 de Agosto)
19h - Jeitos de narrar, formas de editar com Ezter Liu, Fred Caju e Mariana de Matos
20h30 - Lançamento do livro Arremessos de um dado viciado de Fred Caju
21h - Sarau Eroticuzinho com Flávia Gomes, João Gomes, Raimundo de Moraes e Renata Santana
Sábado (11 de Agosto)
14h - Feira de Publicações Independentes com as editoras e selos Bendito Ofício, Caleidoscópio Editora, Cartonera Do Mar, Castanha Mecânica, Cérbero Editora, Inteligência Sensível, Livrinho De Papel Finíssimo, Maracajá Cartonera, Porta Aberta, Titivillus Editora e autores independentes.
20h - Show de Jonatas Onofre