prosa

Emilio Fraia reflete sobre as histórias pessoais no livro 'Sebastopol'

O volume, formado por três contos, traz a hesitação constante do ato de contar histórias

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 19/02/2019 às 11:46
Renato Parada/Divulgação
O volume, formado por três contos, traz a hesitação constante do ato de contar histórias - FOTO: Renato Parada/Divulgação
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Em todas as suas três narrativas, o livro Sebastopol (Todavia), do escritor paulista Emilio Fraia, parece trazer uma tensão persistente. Os contos, com nomes de meses no seu títulos, passeiam por universos diversos: a vida de uma escaladora que se acidentou, um homem que desaparece em uma pousada desativada, uma jovem que ajuda um dramaturgo decadente. São personagens distintos, que não se conectam propriamente. Os textos parecem unidos, no entanto, por tratarem de como cada um de nós tenta forjar uma narrativa pessoal e oficial para a própria vida, como se viver não fosse um processo de aceitar lacunas e aleatoriedades.

Sebastopol, terceira obra do autor paulista, é a sua primeira criada individualmente: o romance O Verão de Chibo foi feito com Vanessa Bárbara, enquanto o seu segundo trabalho, a HQ Campo em Branco, contou com os desenhos de DW Ribatski. Ainda que os dois volumes anteriores já demonstrassem o seu talento, o livro de contos também é, de fato, uma espécie de estreia.

Emilio não constrói o livro através de firulas, mas de sutilezas, não ditos, hesitações. O primeiro dos contos, Dezembro, fala de uma ex-escaladora brasileira, Lena, que narra a história do seu acidente e de quando conheceu Gino. Sua vida, agora convertida por ela e pelos outros em um discurso pronto sobre superação e palestras empresariais, soa para ela uma narrativa alheia.

“Os acontecimentos, quando penso, são como ataduras, algo que cansei de enrolar e desenrolar com o maior cuidado possível. Mas nunca é o bastante. Sei que estamos em 2018, mas a minha impressão é de ter vivido esses anos todos sem ter vivido nada”, conta Lena. “O que eu tinha feito com a minha história? Sendo bem honesta, fiz o que as pessoas fazem o tempo todo. Contar as histórias, recontá-las, congelá-las, dar sentido a elas. (...) E a história é repetida até apagar tudo, e já não sabemos mais o que é o quê.”

MAIO E AGOSTO

No conto seguinte, Maio, Nilo vive em um sítio criado para funcionar como uma pousada. Apesar de sua memória já frequejar, ele procura Adán, visitante que apareceu semanas antes e sumiu há um dia sem dar sinal. “Nilo pensa que as histórias dos homens são uma só. Então, quando nosso passado é esvaziado, quando nos livramos dele, podemos viver outras vidas, encontrar a nossa história nas outras vidas, como se houvesse uma continuidade dos corpos e das consciências, e a história de Adán é também a sua história, é também a sua vida”, escreve.

Em Agosto, o texto final, a jovem Nádia se une ao projeto de Klaus, um dramaturgo fracassado que trabalha em uma peça sobre um artista russo. Também aqui existe a tentativa de contar a história sem ceder à tentação das estruturas fáceis e dos clichês dos finais trágicos ou felizes: “todas as histórias no fundo eram histórias esquisitas em que não acontece nada”. “Acho que as pessoas contam sempre as mesmas histórias, mesmo quando tentam contar outras histórias”, reflete a personagem.

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